quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Castanheiras




Logo na primeira vez que vi uma castanheira na floresta não precisei que me dissessem que ela era ela, eu já sabia. E nem precisaria de fotos para dizer que aquela árvore majestosa, erguendo-se acima das demais era uma castanheira. Desde então, procuro por elas em todas as áreas de floresta por onde passo. E lá estão elas, no Pará, no Amazonas, no Mato Grosso, em Rondônia. Às vezes dou sorte e vejo os ouriços ainda presos às árvores lá no alto, a 12, 15, até 20 metros de altura. Acreditem, é metro que não acaba mais numa árvore.

Aqui pelo sudeste e pelo sul temos, também, algumas árvores majestosas, principalmente duas delas, o jequitibá-rosa, abundante justamente na região de São Paulo onde fica o sítio, e as velhas araucárias do planalto paranaense, nos arredores de Guarapuava. Os jequitibás são poucos, sempre, mas com as araucárias é diferente, elas ocupam grandes áreas, imensas, todas elas, tendo por baixo a vegetação comum da mata, árvores com 4, 5, até 8 metros de altura que, sozinhas, em campo aberto ou num capãozinho de mato, fariam até bela figura, mas ali, na sombra das araucárias ficam pequenas, menores ainda, simples figurinhas de adorno.

Tal e qual as árvores próximas de um jequitibá.

Tal e qual as muitas árvores amazônicas à sombra de uma castanheira.

Derrubar uma castanheira é crime previsto em lei, passível de punição. Ora, que desperdício de legislação! Qualquer um, por mais cretino que seja, sabe que derrubar uma árvore como aquela é crime, baita crime. Mas não adianta, derrubam-nas do mesmo jeito, e a lei nada faz, sequer cócegas nos homens que mandam derrubar as castanheiras.

Todavia, a lei dos homens tem lá seu poder, assusta um pouco e, às vezes, uma, duas, três castanheiras são deixadas em pé no meio da mata devastada. Lembram reis e rainhas num tabuleiro sujo de xadrez, reinando sobre o nada, todos em xeque-mate. Privada de sua corte submissa, as castanheiras não demora muito, sucumbem. Param de produzir seus ouriços pesados, cheios de castanhas. Pior ainda nos pastos e nas lavouras. Em meio ao verde intenso da soja, os troncos enegrecidos pelo fogo e, no alto, as copas sobreviventes olhando o verde das plantinhas miúdas, que depressa demais para uma castanheira mudam de cor, amadurecem e de repente somem nas entranhas de grandes máquinas. Sobrevivem pouco tempo também essas, mesmo que em meio aos pastos, rodeadas pelos bois brancos procurando capim entre o paliteiro de troncos queimados e largados por ali mesmo.

Apesar de tantos pesares, as castanheiras estão lá, por boa parte da floresta amazônica, onde o solo é firme e água, mesmo, só a das chuvas, nunca a das inundações. As publicações alarmistas dizem que elas estão em extinção. Não, não, longe disso, felizmente. Mas estão sofrendo as castanheiras da Amazônia. E ver seu sofrimento nos enche de dó, pena, raiva e, pensando bem, um pouco de medo.



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Um comentário:

Unknown disse...

Apreciei tua crônica sobre as castanheiras, em Parintins, baixo Amazonas, 80 árvores desta espécime foram derrubadas para dar lugar a um empreendimento imobiliário privato com financiamento da CEF.
Segundo reza a lei, o projeto recebeu aval de todos os órgãos ambientais e por medida COMPENSATÓRIA vai plantar 3.000 árvores e criar uma área de proteção ambiental.
Irônico, primeiro destroem o que a natureza leveu anos e anos para criar. Ai criam (talvez) uma área de proteção. Importante dizer que o engenheiro responsável pela grande obra é formado pela Universidade Federal do Amazonas. Se quiser ler um pouco + va no sitiodagaia-gaia.blogspot.com

cordialmente

gaia