domingo, fevereiro 05, 2006

Falando de futebol no sertão



Uma pausa gostosa no meio da manhã. Um cafezinho para uns, um mate para mim. Não sei porque, mas nunca corri atrás de uma cuia e bomba para ter meu mate em São Paulo, mas, viajando, não abro mão de saborear um amargo sempre que posso, como agora.

Estamos em Campo Novo dos Parecis. A avenida principal tem o nome do “seu” Olacir. Nada mais justo e merecido, e ainda é muito pouco, pois ele está na origem da transformação e desenvolvimento de toda essa região. Daqui até Cuiabá são 400 km de estrada, todos asfaltados, felizmente. Esse município tem 6 vezes o tamanho do município de São Paulo, com quase dez mil quilômetros quadrados de área. A linda e imponente Cachoeira Utiariti, ao lado da aldeia Parecis do mesmo nome, fica em seu território. Parte da área do município é ocupada pelas reservas indígenas, existindo 3 aldeamentos com cerca de meio milhar de habitantes.

E aqui, nesse cenário, três homens adultos estão conversando sobre o que realmente conta e tem valor na conversa de três homens adultos: futebol.

Zé Carlos, nosso motorista, é mato-grossense de Rondonópolis e torcedor do Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. O Vitor, agrônomo, trabalha na empresa para a qual estamos gravando, o Grupo André Maggi, aqui na região. Mas é do Paraná, veio pra cá há muitos anos e aqui criou suas raízes e cria sua família. Eu sou o terceiro participante, paulistano com pretensões a ser um sertanejo.

O Zé chama nossa atenção, cria um suspense, puxa a carteira do bolso da calça e, orgulhoso, mostra-nos o ingresso do jogo do seu mui amado União de Rondonópolis contra o seu querido e idolatrado Vasco da Gama. É do jogo válido pela Copa do Brasil e o ingresso já mostra sinais dos muitos manuseios.

Mais que depressa o Vitor saca sua carteira e, de lá, o ingresso plastificado do jogo do São Paulo contra o Paysandu, de Belém, que ele assistiu no Morumbi pelo Campeonato Brasileiro de 2005. Mesmo plastificado, nota-se que esse ingresso já viu muitas mãos durante sua existência pós-jogo.

Não fico atrás, é claro. Corro até o carro, pego meus documentos e... Nada! Na véspera da viagem guardei, cuidadosamente, meu ingresso do jogo final da Libertadores de América, quando nos tornamos Tri-campeões continentais. Fico chateado e sinto-me diminuído. Coisa de criança, claro. Coisa de homem, naturalmente.

E aproveitamos toda a pausa para falar de futebol, dos jogos que vimos, dos times que admiramos. O Vitor foi a São Paulo para assistir ao GP de Formula 1. Na véspera da corrida trocou o passeio por mais um shopping pelo jogo no estádio do seu time do coração. Ficou emocionado por conhecer o Morumbi, e já está louco de vontade para voltar. E, nesse ano, conforme for o desempenho do time na Libertadores, já há um grupo de torcedores são-paulinos em Campo Novo dos Parecis planejando uma viagem para São Paulo só para ver um jogo do time pela Libertadores, mais que nossa paixão, nossa obsessão.

E assim foi nossa pausa, uns tomando café, eu mateando e todos falando de futebol. Afinal, como escreveu certa feita Nelson Rodrigues (creio eu), futebol não é uma questão de vida ou morte. É mais importante que isso.


P.s. : tão logo voltou para casa, o Zé mandou plastificar seu ingresso, afinal trata-se de seu documento mais importante e querido.


.

Um comentário:

Anônimo disse...

Emerson

Hoje você me fez recordar dos anos 80, quando por diversas vezes estive na Fazenda Itamarati do "Seu Olacir" a trabalho pela Massey Ferguson. A região estava em franco desenvolvimento e se via progresso por todos os lados. Hoje as coisas já não são mais as mesmas. Com certeza é por causa do batráquio que vive em Brasilia.

Miguel