quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Para falar com o mundo

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Ao descer em Itacoatiara estranhei a presença de um caminhão de mudanças da Granero. E o pequeno saguão, ou sala, do pequeno aeroporto estava tomado por vários grupos de grandes caixotes e pilhas de baterias, iguais às dos carros na forma, mas bem maiores. Fechando o quadro, orelhões embrulhados em plástico espalhados pelo chão.

Orelhões?

Orelhões, sim.

Pouco depois, enquanto nosso avião fazia o primeiro sobrevôo, comecei a conversar com o pessoal que estava por ali, acompanhando os grandes pacotes e fiquei sabendo que se tratavam de estações de comunicações destinadas a pequenas comunidades do interior. Perdidas no meio da floresta.

Cada grupamento de caixas era a carga certa para um avião Bandeirante, fretado pela empresa de telefonia para o transporte das estações. A viagem dos equipamentos começou em São Paulo e Campinas, de caminhão. Seguiram até Porto Velho, onde as carretas, sem os cavalos-mecânicos, foram embarcadas em barcaças e desceram o Madeira e o Amazonas até Itacoatiara, onde foram desembarcadas. O caminhão da Granero saiu de Manaus e foi até lá apenas para transportar os equipamentos, em segurança, do porto até o aeroporto. O Bandeirante foi fretado para transportá-los até as cidades mais próximas das pequenas comunidades, de onde seguirão de barco – todos eles – para seus destinos finais. Para caber tudo no Bandeirantes, as antenas vão despidas de toda e qualquer proteção, e mesmo assim entram no limite. Os grandes armários são abertos e, uma vez embarcados, recebem as baterias que vão alimentar os equipamentos. Já seguem, portanto, montados. E, finalmente, embarcam os painéis solares, que por sua vez vão alimentar as baterias que vão alimentar os equipamentos. Os orelhões já estão com os aparelhos telefônicos. É chegar, instalar o poste, ligar o cabo e falar.

- Mas não seria mais fácil vocês desembarcarem tudo isso em Manaus mesmo? As distâncias para a maioria das cidades não seria menor?

- Ah, seria, seria bem melhor pra gente trabalhar e bem menor pra companhia pagar, a distância, né? As horas de vôo.

- Sim, sim, eu entendi. Mas, então, por que não foi tudo pra Manaus?

- Porque a gente tem prazo pra entregar, instalar e pôr pra funcionar, né? E em Manaus os fiscais estão demorando vinte dias pra liberar cada carga que chega.

- Vinte dias?

- É... Então, pra companhia fica mais barato gastar mais em tudo e trazer pra cá, né?

- Claro, claro, tem lógica.

Sim, tem muita lógica. Lógica tupiniquim.


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