Um Olhar Crônico sobre os dias de hoje e alguns de ontem. Um Olhar Crônico sobre a vida nas cidades, a vida na megalópole, a vida na roça, quando é dura, e no campo, quando é lírica. Textos, Idéias & Coisas diversas, aquelas que passam pela cabeça e a gente acaba registrando, sabe-se lá pra que ou mesmo porquê.
sexta-feira, fevereiro 03, 2006
A Casa da Borracha - I
Visões dumas andanças - II
A Casa da Borracha
Pouco sei sobre ela. Difícil sobrar tempo pra parar e perguntar e ouvir as histórias dos muitos lugares por onde passo. Mas é imponente a danada. E mesmo decaída é bonita. Bem cuidada, deve ser um espetáculo. Já a vi com as águas do Amazonas praticamente lambendo seu assoalho. Talvez tenham lambido mesmo, e até encoberto seu piso. Afinal, naquele momento a cheia não tinha atingido seu ponto máximo e muita água ainda ia descer os rios amazônicos e engrossar aquele mundão de água.
É imponente, né?
Bom, agora imaginem que aqui na frente dela o Rio Amazonas é estreito, tem só coisa de 5 km de largura... E 100 metros de profundidade. Imaginaram? É, eu sei que é difícil. Mesmo assim, tentem imaginar esse rio subindo, subindo, subindo, até suas águas cobrirem esse capinzal... Tem uns bons “par” de metros aí, não é coisa pouca, não. Pois é, isso é Brasil. Isso é Amazônia. Isso é parte de Itacoatiara, na margem esquerda do Amazonas, a 280 km de estrada de Manaus, ou 12 horas de barco.
A zoom da lente distorce, aproxima e diminui a largura do Amazonas. Mesmo assim, dá pra gente ter uma idéia, né? E as águas da cheia sobem praticamente tudo isso ainda, ou até mais, num ano mais molhado.
Dá dó ver a Casa com um poste na frente, fios elétricos poluindo sua fachada. Pior ainda, aparelhos meio mambembes de ar condicionado. E um bocadinho de lixo jogado pela rua em frente suas portas. Não, fala sério, ninguém merece, muito menos uma casa como essa.
Nove portas francesas, oito balcões e mais não sei de arquitetura pra ficar falando, mas basta ver a foto com atenção para sentir, mais do que ver, sua grandiosidade e sua história. No início do século passado, os seringueiros encostavam suas canoas e desciam as bolas de borracha, frutos do trabalho insalubre e pesado no meio da floresta. Mas, pior ainda, seringueiros fazendo isso era coisa rara. O mais comum era que os regatões, os donos dos barcos-armazéns que subiam e desciam rios e igarapés, encostassem e descarregassem muitas bolotas. Era o trabalho dos seringueiros trocado por mantimentos e utensílios caríssimos. Uma velha história triste de exploração e miséria numa ponta, e riqueza em outra. Disseram-me que tem algumas pessoas morando na Casa. E que ela pertence a um morador da cidade. Não sou muito chegado às intervenções governamentais, não, mas acho que esse seria um bom caso de compra e transformação, depois de uma boa reforma, seguindo o desenho antigo.
Recuperada, pintada, transformada num museu e num centro de venda de artesanato regional, estou certo que os turistas que sobem o Amazonas em busca de Manaus nos grandes transatlânticos cheios de americanos, canadenses, europeus, japoneses e até brasileiros, teriam de parar ali, na sua frente, descer as lanchas e nelas os turistas, para que entrassem e conhecessem um pouco da história econômica do Brasil e do mundo. Ela é fruto da mesma explosão de crescimento e riqueza que transformou Manaus, durante alguns anos, numa das cidades mais ricas do mundo, deixando como herança muitas estórias e o maravilhoso Teatro Amazonas.
E os turistas, de quebra, comprariam um monte de coisas, deixando algum dinheiro na cidade e ajudando a população a perceber que tem mais a ganhar preservando do que cortando madeira pra fazer móveis além-mar, ou jogando o lixo no meio da rua, na frente da Casa da Borracha.
3 de março de 2004.
.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
4 comentários:
dddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddd
Estava procurando Casa da Borracha loja para comprar papel bolha, quando deparei com este texto lindo "lindo no sentido de ter que parar e ler ao invés de passar batido (não é o que procurava!).
Apesar de vc já ter escrito a muito tempo, não sei se irá ler este comentário, mas deixo registrado meus Parabéns!Sua escrita "prende" o leitor....no sentido mais inverso de quando a política PRENDE o eleitor... não é mesmo?
Voltarei com calma para ler seus textos..........
Não só li, como gostei, Dalva, muito obrigado.
Emerson
Muito interessante o seu texto, fico feliz por alguém falar bem da nossa Amazônia, e principalmente do nosso Amazonas... Parabéns
Postar um comentário