(Atenção leitores do antigo blog: esse post já foi publicado lá.
Sim, eu sei, ando preguiçoso. Preciso parar de escrever nos outros blogs e escrever aqui.)
Santa Rita do Passa Quatro é pequena, gostosa, turística e bucólica. O progresso passou a 10 km de distância, no asfalto da Anhanguera. Dez a mais ou a menos, dependendo do referencial, e Santa Rita seria uma cidade maior e mais rica, como Leme, Pirassununga e Porto Ferreira, talvez até com uns dez vereadores e empresários presos.
De vez em quando Santa Rita aparece na Globo, em pleno Jornal Nacional. Ora por causa de uns trastes que alugaram casa no centro e chácara nos arredores (fazendo quina com a do meu sogro!) para produzir e embalar cocaína, ora por causa de algum bandidão preso no trecho santarritense da Anhanguera, como ainda recentemente, quando o bravo destacamento policial de Santa Rita fez a captura de um bando de ladrões de carga. A coisa toda foi tão legal que vale a pena gastar umas linhas de escrita e alguns segundos de leitura antes do assunto central.
Uma viatura foi chamada para averiguar dois caminhões parados na beira da estrada, em atitude suspeita (nunca fiquei sabendo quem ou o que tinha tal atitude... seria o Mercedão, ou seria o Scania?). Ao chegar no local, enquanto os policiais iniciavam os contatos para checar documentação, um dos caminhões deu no pé. Ou nas rodas. Fugiu. Dois policiais ficaram com os bandidos lerdos e dois, com a viatura, saíram em perseguição ao caminhão fugitivo. Reforços, claro, foram pedidos. Em plena Anhanguera, objetos diversos começaram a ser jogados na pista, numa tentativa de mandar a viatura pro beleléu. A bandidagem anda vendo muita produção holywoodiana. Em vão. Finalmente, sob ameaça de escopeta, o motorista do caminhão parou o veículo fugitivo. À voz de prisão, porta traseira do baú aberta, começa a descer bandido... Um, dois, três, quatro... onze, com o motorista. Parecia um pastelão. Com a chegada de mais viaturas e policiais, bandidos alinhados, toca um celular.
- É teu?
- Meu não, tenente. Deve ser desse bandido aí (o certo seria dizer desse “cidadão sob averiguação”, mas seria muito preciosismo, né?).
O tenente pega o celular no bolso do bandido.
- Alô?
- Porra, ondé que cês tão?
O tenente pensa ligeiro.
- Tamo aqui na porra da estrada. E vocês, tão onde?
- Esperando aqui na churrascaria, caralho!
- No Diné?
- Claro, porra!
- Já tamo chegando, tamo perto.
- Tá bom.
Só a título de curiosidade, almocei ontem no Diné, com a Rosa e meus sogros (meu sogro adora almoçar lá, e ontem o rodízio tava 8,75) (isso foi nota pela qualidade, de 0 a 10, e não o preço, que desconheço, pois meu sogro sempre convida e, portanto, sempre paga...).
Pouco depois os policiais, mais reforçados, agora com pessoal de Descalvado e Porto Ferreira, também, chegaram ao Diné, como sempre cheio de gente. Todo mundo foi pra beirada do balcão, sem tugir nem mugir. E começou o festival de identificações e conferência de número de celulares. Bingo! Mais 4 ou 5 bandidos presos. Isso é o que se pode chamar de captura cinematográfica, do começo ao fim.
Mas vamos ao que interessa.
Operação Anaconda em Santa Rita do Passa Quatro
Bom, todo mundo já deve estar meio cansado até de tanto ler e ver na tevê a cobertura da brilhante Operação Anaconda, que está desbaratando uma, suposta, quadrilha de juízes, policiais federais e outros representantes de outras classes profissionais. A coisa anda já pela casa dos muitos milhões de dólares, e agora a sujeirada começa a chegar, também, na Polícia Civil. Muito bem.
Apesar daqueles 10 km de distância do progresso, Santa Rita do Passa Quatro não fica de todo à margem do progresso. Sendo assim, acabamos de ter por lá nossa Operação Anaconda, com a participação de quase todo o destacamento policial da cidade. Imaginem!
Tudo começou com um telefonema do Hotel-Fazenda Glória, denunciando a presença de uma cobrona no parque do hotel, lindo local habitado por aves diversas e visitado por visitantes vários, como sói acontecer nesses locais.
Lá foi uma viatura checar o ocorrido.
Foi pouco. E lá se foram mais duas viaturas.
A tal cobrona era uma sucuri de pelo menos 5,50 a 6 metros de comprimento. Sem exagero. A fotografia publicada n´A Gazeta de Santa Rita é clara e não deixa margem para nenhuma dúvida: a cobrona está lá, nos braços de quase toda a corporação policial. Oito homens a seguram, da ponta do rabo à cabeça. Mas há alguns clarões aqui e ali, suficientes para, pelo menos, mais 4 homens com relativa folga. Ora, se considerarmos que a largura ocupada por um homem adulto gira aí por volta de 50 centímetros, só isso já nos dá os 6 metros.
Gente, é muita cobra!
A primeira caixa que mandaram para prender a bichinha não foi suficiente. Veio outra, e então, devidamente acomodada, lá se foi a sucuri pra reserva florestal de Luiz Antonio, próxima do Mogi-Guaçu, onde foi libertada para continuar sua busca de capivaras.
Ah, sim, pequeno detalhe: ao lado da “marvada” tinha 3 gansos mortos. E com todo o agito da captura, mais dois foram regurgitados. Tava com fome a moça.
Bom, essas operações anacondas são realmente surpreendentes, né? Eu nem sei qual a maior surpresa, se a descoberta da quadrilha com juízes, delegados e policiais, ou se a captura de uma sucuri de 6 metros de comprimento, em pleno interior paulista, no meio dos canaviais, laranjais, asfaltos, pontes e indústrias.
Hummmmm...
Na verdade, infelizmente, essa frase acima é só pra efeito, nada mais. Porque, surpreendente mesmo, é encontrar uma cobra como essa naquela região e não nos confins da Amazônia ou do Pantanal. As descobertas da outra Operação Anaconda não são surpreendentes.
Emerson
P.s.: semana passada, o Ismael espantou outra jibóia do pomar de laranja-lima, quando roçava a braquiária; nesse diapasão, aquilo vai mudar pra pomar de jibóias.
P.s. 2: o ambiente natural vai mal, obrigado, mas não tão mal como muitas vezes pensamos; e apesar do que pensam e falam os urbanóides, particularmente os representantes daquela variedade histérica e chata, os “ambientalistas”, os produtores rurais são em boa parte os responsáveis por essa manutenção de um pouco de ambiente natural.
Carapicuíba, 19 de janeiro de 2004.
9 comentários:
Muito bom, muito bom mesmo esse texto.
parabéns.
Como vai seu cãozinho?
Emerson o anonimo sou eu.
Podemos dizer que o número cabalístico de Santa Rita do Passa Quatro é dez.
E Passa Quatro ainda me leva a pensar nos 4 elementos (fogo, terra, água e ar), nos 4 pontos cardeais e nas 4 estações. Huuum...Seria a Terra Prometida? :)
Amei a crônica, como sempre. :)
E esse segundo anônimo aí sou eu. :P
Cara, virei teu fã, fala sobre santa rita como ela realmente é. Incrivel como as autoridades daquela cidade se superam dia após dia! rsrs
Quanto sairá o livro das crônicas Santainsanas?
Grande abraço e parabéns pelo trabalho.
ESSA OPERAÇAO OCORREU QUANDO? PARABENS A TODOS
sem palavras, muito boa a cronica, parabens
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