terça-feira, outubro 25, 2005

Tapajós... lembranças e realidade


O Tapajós é o mais bonito entre tantos rios da Amazônia.

Tanto ou mais até que o Xingu.

Meses atrás navegava por suas águas cristalinas e verdes, descendo dos cerrados e matas do Planalto Central. Era tempo da cheia, a água perdia de vista. Tinha lugar em que o rio alargado chegava a vinte quilômetros! No encontro com o Amazonas, uma sensação indescritível. As águas diferentes correndo separadas por muitos e muitos quilômetros, cada uma “na sua”, cada qual com sua identidade e sua história carregada de histórias e estórias.

Sentei-me numa praia e ali fiquei um tempo gostoso. Alguns patos semi-domesticados passaram nadando pertinho de mim. Talvez tenham me confundido com um monte de areia. Lentamente o sol se pôs, e depressa chegou a noite. Era tempo de ir embora. Compromissos, trabalhos, viagens. Dura decisão levantar daquela areia, deixar de ser apenas mais um monte na areia de beira-rio.

O marinheiro malaio ou filipino, não recordo, se espanta com tanto rio, tanta água doce. Digo-lhe que nada viu. Tem muito mais do que isso que ele vê. Olha-me espantado, mas acredita. Como não acreditar ele tem tanta água à sua frente? No dia seguinte seu navio deixa o porto de Santarém, carregado de farelo de soja. Em poucos dias cruzará o canal que liga dois universos, dois oceanos, o Canal do Panamá. Mais um monte de dias e chegará à Tailândia. Farelo brasileiro para os frangos tailandeses que serão comidos por bocas européias, chinesas ou japonesas.

O carregamento do navio prossegue. É um graneleiro classe “Panamax”, ou seja, projetado justamente para cruzar o Canal. Logo mais estará completa a carga de 53.000 toneladas de farelo. Será hora de deixar o coração da Amazônia e sair para o mundo.

Lembro de tudo isso e muito mais enquanto vejo essas fotos do Tapajós de agora. Que tristeza...




O Rio Tapajós, em Monte Alegre, no início dessa semana.

O normal é a água cobrir tudo, até aquela mata lá longe.

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Um comentário:

Anônimo disse...

:(