É assim que recordo esse ano prestes a terminar. Meio triste, meio chateado.
Talvez pela permanência de lulla da Silva por mais 4 anos.
Talvez pelo lento sentimento de inviabilidade que começa a ficar mais e mais palpável sempre que penso no país.
Talvez pelo absurdo da impunidade sobre tudo e todos.
Talvez eu esteja assim pela morte da família de Bragança, queimada viva em seu carro. E, agora, a morte de mais sete pessoas, queimadas vivas dentro de um ônibus no Rio de Janeiro. E a certeza de que os autores desses crimes tão bárbaros nada sofrerão. E, se condenados, não ficarão mais que doze, talvez quinze anos, numa prisão.
E, para agravar esse sentimento, teve a seca. A cruel seca de 2006 que pôs abaixo parte de meus sonhos. Por outro lado, é claro, trouxe lições. Mas as perdas e o sentimento de derrota estão difíceis de serem superados. Foram muito fortes; são, ainda.
Não é um bom final de ano, lamento.
Tento pensar em alguma coisa para justificar um novo título, algo como Perdas & Ganhos.
... Tentei, mas não cheguei a parte alguma. Claro, no plano pessoal mais próximo estamos todos bem, e isso já é muita coisa. As vacas estão bem, apesar dos pesares, o pasto de tanzânia está bem implantado, o canavial também, e essas foram duas conquistas, sem dúvida, aliadas a um controle razoável das águas das chuvas. Todavia, fica um sentimento de insuficiência, de faltar alguma coisa.
... O ano termina com uma demonstração inequívoca de como estou deslocado no mundo publicitário. Nesses últimos dias entrou um trabalho novo e um pouco diferente: escrever o roteiro para um vídeo já criado e entrando em fase de produção acelerada. Desde o primeiro contato telefônico, entretanto, senti que não era um trabalho para mim. Senti que não conseguiria escrever o que as pessoas esperavam.
E o que elas esperavam e estavam dispostas a pagar para ter?
Palavras de estímulo ao consumo de um serviço na área de saúde.
Queriam um vídeo vendedor.
Foi quando comecei a entrar em choque comigo mesmo. De um lado, a necessidade de trabalhar, abrir um novo mercado, fazendo algo que gosto e para o qual estou capacitado. De outro, porém, minha velha, minha antiga postura de repúdio a vender alguma coisa para alguém. E, para isso, usando palavras, dourando pílulas que sei não serem tão douradas. Coisa difícil demais. Já era difícil antes, ficou muito mais difícil agora.( Tal como escrever um texto otimista e positivo, hoje, sobre esse ano que finda. Não dá.)
Tive sorte: o cliente reclamou de todos os custos e acabei cortado de maneira nada elegante, mas faz parte, né?
No íntimo, gostei.
Isso já é alguma coisa: saber o que não quero, o que não gosto, o que me desagrada.
É sempre bom começar um novo ano com algumas certezas.
Então, é isso: que venha 2007.
Que venha com chuvas bem distribuídas.
Que não seja tão violento e cruel como foi 2006.
Que não seja tão sujo e criminoso nas cúpulas de poder espalhadas pelo Brasil como foi em 2006. A começar pelo poder maior, ancorado no Planalto.
Que venham as chuvas, e que venham bem distribuídas.
E que todos tenham muita saúde & paz em suas vidas, com chuvas abundantes, regulares, criadeiras, tanto figurativa como realmente.
Chuva é vida. Feliz 2007.
“Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem; cada um como é.”
Fernando Pessoa (“Ficções do Interlúdio” – Poemas Completos de A. Caeiro)
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2 comentários:
Grande Emerson!
Feliz 2007 pra ti, blábláblá...
Bom, cumprido o protocolo, vai a dica: estou lendo "Conceito Zero", de A.J. Barros.
Lembrei de ti em várias passagens do livro. Recomendo fortemente!
Grande abraço,
Ricardo CRF
Uma pessoa fiel a seus princípios mais que merece um ano novo com muita, mas muita chuva. Parabéns pela sua forma de ser. Maria Helena.
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