sábado, dezembro 16, 2006

É briga!


A vida no sítio é sempre cheia de surpresas e descobertas.

Cada dia é diferente do outro, e mesmo dentro de um dia são muitas as mudanças.

Final de tarde de sábado, tarefas concluídas, vacas e bezerros alimentados e separados, tudo pronto para a chegada da noite. Enquanto olhava as bezerras, ouvi uma barulheira estranha. Apesar de meio estranho, identifiquei-a como briga de gatos. Fui pro local de onde vinha o rebuliço, perto da varanda dos fundos, onde fica o tanque e, ao lado, guardamos um pouco de lenha para o fogão. Ao me aproximar, deparei com algo inédito em minha vida. Não eram gatos brigando, embora os gritos agudos lembrassem bastante, eram...

Dois ouriços brigando!

E como brigavam! Vieram correndo da matinha e entraram na varanda, indiferentes à minha presença, totalmente concentrados em suas próprias descargas de adrenalina.

E na varanda se engalfinharam, literalmente. Finalmente perceberam minha presença e se afastaram, mais uma prova da interferência do observador sobre eventos naturais, mesmo quando ele se julga apenas isso, um observador sem direito a voz e voto, mero assistente. O maior e mais forte voltou bamboleante pra matinha, satisfeito com sua vitória e a lição ao importuno (acho eu). O derrotado, um pouco menor e, talvez, fiquei pensando, o ouriço que prendi para os cachorros não atacarem mais há algumas semanas, contornou a casa. Podem não acreditar, mas ele tinha o andar de um derrotado e mantinha a cabeça mais baixa que o vencedor. Uma das gatinhas rodeou-o, mas nem se meteu a besta; olhou e foi embora, sem que eu precisasse dar uma bronca.



Cruzou o gramado e passou perto das vacas, no corredor que leva para os piquetes de tanzânia. Duas ou três mais curiosas aproximaram-se da cerca e ele mudou sua trajetória. Espantou as angolas que fizeram uma barulheira terrível – pra variar – com a agitação causada pela briga. Também curiosas, estavam ao seu redor, embora mantendo distância prudente. Pelo jeito, só os cachorros são imprudentes no que diz respeito a esses bichinhos.

Teimoso, persistente, ou simplesmente sem opções, enquanto o sítio entrava na penumbra que antecede a noite, o ouriço derrotado voltou pra matinha de onde tinha sido recém-expulso.

Na cauda, alguns troféus: espinhos do adversário cravados no couro.

Meio bíblico isso... Quem com espinho fere, com espinho será ferido.

E a paz da noite caiu sobre o Sítio das Macaúbas.


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