sábado, dezembro 16, 2006

Paulistanidades


“É sempre lindo andar na cidade de São Paulo

De São Paulo...

A vida é grana,

O clima engana,

Em São Paulo...”

Gosto de andar na minha cidade. Até já foi minha, eu acho, em uma outra era. Hoje, é de ninguém, eu acho, também.

Eu acho muito. Mas já estou com idade bastante pra parar de achar.

Esses versos são de uma música do Premê, se a memória não me engana – que é só uma maneira mais comprida e besta de dizer eu acho.

No meio de tanto achismo, uma certeza: mesmo num sábado, só é civilizado andar por essa megalópole nas primeiríssimas horas da manhã. Foi o que fizemos hoje, saindo cedo de casa e indo pro centro da cidade, o Centro Velho. Na verdade, só passamos por ele, pois o destino era o Mercado Municipal, no Parque Dom Pedro. Chegamos cedo e... não entramos. A fila de carros era enorme, o estacionamento há muito já estava tomado, o sol começava a pôr suas manguinhas de fora e pouco passava das sete da manhã.

Desistimos. Como não podemos desistir do bacalhau pro Natal, o jeito será voltar amanhã, já que, por algum estranho sentimento, não gostamos de comprar bacalhau em outro lugar que não seja o Chiapetta do Mercadão.

Aproveitei o retorno prematuro e embarafustei o carro pelas quebradas do Bixiga, até a padaria antiga, antiqüíssima, pra comprar pão italiano da gema e lingüiça calabresa defumada com pimenta, muita pimenta. Com ela, um aviso: “O ministério da saúde adverte, etc e tal.” Nesses dias que correm ando escrevendo algumas coisas com minúsculas, mesmo, tipo ministérios, presidência, câmaras de deputados, vereadores e senadores (ora, o senado nada mais é que uma câmara, por sinal, a câmara alta; a dos deputados, portanto, é a câmara baixa; taí, fosse eu editor de algo mais que esse blog e só referir-me-ia doravante à instituição em questão como câmara baixa; tem tudo a ver... tudo).

Ao entrar na padaria um sorriso tomou conta de meu rosto, de imediato. Felicidade pura: sobre o balcão, uma travessa cheia de canollis fresquinhos, lindos e... saborosíssimos. Não esperei pelo atendimento – certas coisas não podem esperar – e já peguei, cuidadosamente, um dos tubinhos cheios de creme que sorriam para mim.

Como é bom comer um canolli assim!

Orra, meu, mas que creme me fazem aqueles caras, viu?

Como vocês podem ver, coisa de paulistano.

Assim como a 14 de Julho, a padaria.

Ela é de 1897, e como dizem, naquela época o Nono entregava o pão de carroça. Hoje, a carroça já não existe, mas o pão ainda é o mesmo. Se não mudaram nada nos últimos anos, quando a gente entra na área de panificação tem certeza que a data é aquela mesma, se não for ainda mais antiga. Compramos dois pães. Comi um pedaço de outro, acompanhando a degustação da lingüiça. Essa padaria é rica em visões e cheiros. E mais ainda em sabores, mas quem consegue provar tudo que está à mostra? Alcachofras, conservas em alho, cebolas, azeitonas, lingüiças, queijos, azeites...

Todo um universo de gostosuras.

Em plena manhã de sábado não é só o Mercado Municipal que regurgita de gentes e carros. A cidade inteira (cidade é como a gente se referia, e alguns ainda se referem, ao velho centro) está fervilhante e o trânsito, é claro, problemático. Normalidade paulistana.

Antes das nove da manhã estamos de volta à Granja Viana e a um verdadeiro café-da-manhã. A idéia era comer no Mercadão, mas não deu. Em casa, com o pão de 1897, está mais gostoso.

A próxima saída, sem ser a volta ao Mercado, é uma ida ao Morumbi Shopping pra conhecer as Starbucks tupiniquins. Amigos que já foram gostaram e recomendaram. Breve darei minha opinião.

Às vezes é bom viver em São Paulo ou em seus arredores.

Às vezes.


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