sexta-feira, dezembro 15, 2006

Na Idade das Trevas



- Que vergonha isso! “Eles” dizem que vão aumentar o salário mínimo que a gente recebe pra trezentos e setenta e cinco, mas só em maio. E pra “eles” mesmos vão dobrar o salário logo de cara, no começo do ano.

Ás voltas com um trabalho meio chato, meio complicado e inteiro atrasado, respondi alguma coisa no piloto automático para minha mãe, sem me dar conta do que ela, de fato, falava. Pareceu-me, naquele momento, mais uma reclamação sobre o baixo valor da herança única de meu pai, a pensão de um salário mínimo. Mas, era mais, era muito mais que isso...

Era um misto de revolta, tristeza, vergonha, desencanto...

Só dei-me conta de tudo isso hoje cedo, quando a manchete do jornal, ainda no portão de casa, atingiu-me com a força e a dor de um murro no estômago:

“Parlamentares dobram salário”

E a coisa não parou por aí, revelou-se muito pior, já nas poucas linhas do texto de abertura do artigo:


Senadores e deputados, que já ganham 15 salários por ano, receberão R$ 24,5 mil mensais - Eles também criaram aumento automático, vinculado aos vencimentos dos ministros do STF - O efeito cascata já começou: a Assembléia Legislativa paulista vai aplicar o mesmo porcentual e pagar R$ 18,3 mil a seus deputados”


Confesso que estou sem fala.

Tudo que consigo pensar desde essa fatídica leitura é que o país não tem nenhum instrumento moral para julgar e condenar ladrões e outros bandidos. Esse pensamento ocupou minha cabeça e dali não sai nem a pau.



E por falar em pau, foi revoltante e errada a atitude da polícia ao defender os assassinos que mataram, pelo fogo, a família de Bragança Paulista. Desculpem-me todos que me lêem, sei que vou falar e escrever uma insanidade, mas seguirei em frente assim mesmo: os autores desse crime mais do que hediondo, impossível de descrever em todo seu horror, só podem ser linchados, vivendo seus últimos momentos em meio às chamas. Não pode haver cadeia, julgamento, prisão, anos e anos comendo, bebendo e dormindo às custas de quem trabalha e paga imposto para, no fim, voltarem às ruas e à vida livre como qualquer outro de nós. Não, há limites para o ato de ser civilizado. Nesse caso, os limites foram rompidos.



E para ninguém dizer que não falei de flores, falarei de milho, cujos pendões não deixam de ser flores.

Um juiz federal qualquer do estado do Paraná, emitiu uma liminar ontem proibindo a aprovação pela CTNBio da entrada no mercado do milho transgênico Liberty Link.

Não vou gastar o tempo de ninguém falando sobre os OGMs – Organismos Geneticamente Modificados – e sua importância para a agricultura e, principalmente, para a produção de alimentos com menor dispêndio de energia no seu sentido mais amplo.

Esse produto que acaba de ser proibido de ir ao mercado, não caiu do céu, pelo contrário, foi pesquisado, testado, acompanhado e já é utilizado há muitos anos em muitos paises com excelentes resultados agronômicos e econômicos, sem nenhum dano à saúde de pessoas e animais ou mesmo ao ambiente. Isso, todavia, não basta para os aldeões medievais e ignorantes travestidos em defensores do ambiente e dos consumidores que entram com ações paralisantes pelos tribunais desse país.

O resultado dessa ação é tenebroso: durante todo o ano de 2006 a CTNBio não aprovou um único produto oriundo da biotecnologia. Nem preciso dizer de nosso atraso em relação ao resto do mundo civilizado e desenvolvido.



E agora, relendo tudo que escrevi, percebo que quero queimar na fogueira os assassinos da família de Bragança, enquanto aldeões medievais e ignorantes paralisam o desenvolvimento e a prática científica e os donos do poder se locupletam criminosa e desavergonhadamente nos castelos, também conhecidos por casas legislativas, tribunais e assemelhados.

Vivemos nova Idade Média, é isso. E, para completar esses tempos medievais, só falta, agora, a Peste Negra.

Desculpem por isso, sinceramente. Juro que queria escrever outra coisa, qualquer outra coisa, mas não deu.



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