quinta-feira, março 03, 2005

Pra quem gosta de futebol...

Transcrevo abaixo a coluna de hoje do Nando Reis no Estadão. O Nando, para quem não sabe ou não lembra, é um dos Titãs. Assim como foi Marcelo Fromer, que morreu atropelado por uma moto há alguns anos. Ambos torcedores do São Paulo. Grandes torcedores.

"Energia para iluminar a cidade

NANDO REISnandoreis@estadao.com.br

Querido amigo Marcelo: No domingo estive com seus filhos. Como cresceram! Havia falado com a Tina durante a semana e por coincidência haveria um jogo magnífico para assistirmos. Há algum tempo já tinha prometido ao Max que iria levá-lo ao estádio para que ele pudesse fazer sua estréia, já que é um torcedor daqueles que, como você e eu, arde de paixão quando fala do São Paulo.Tinha um esquema bacana para podermos ir à campo, afinal de contas um clássico como São Paulo e Corinthians mexe com os nervos, traz uma tensão que, nos tempos de hoje, pode se chamar de prenúncio de uma guerra.Andei lembrando dos tempos que escrevíamos juntos, daquelas milhares de idéias que você, principalmente, sempre trazia, buscando uma forma de inovar essa relação arcaica que há entre o futebol e suas extensões, sejam elas profissionais ou apenas leigas, como nós, no fundo, simples torcedores.E me deu uma vontade louca de ser mais atuante, de aproveitar um pouco da notoriedade, dessa ridícula forma de aparecer cuja expressão 'visibilidade' passou a significar tanto hoje em dia. Pensei em insistir na tese que defende a volta dos torcedores ao estádio, combater um pouco da inércia que nos imobiliza tanto pelo conforto que dá a transmissão pela televisão, mas que de jeito nenhum substitui a emoção de ver o jogo onde ele acontece de verdade. Sei que estou certo.E não tenho exemplo melhor para comprovar essa tese do que a narrativa do que se passou nesse fim de semana. Como você bem sabe, desde que você se mudou e as crianças voltaram pra cá, o Max ainda não tinha conseguido ir a um jogo. Ele me contou que assistiu a alguns jogos do Benfica, mas pelo jeito, parecia mais como ir a uma partida de dominó. Pois bem, lá fomos nós ao Cícero Pompeu de Toledo: o Rodrigo estava com o Teodoro e eu com seu filho e o meu, Sebastião. Todos os três pequenos foram uniformizados. Entramos pelo portão 1 e ficamos ali em baixo para ver a delegação chegar, os jogadores descerem do ônibus. Depois chegou o alvinegro e vimos o Tevez de perto. Os combatentes chegavam a seus postos.Subimos de elevador e caímos no salão principal. Na sala de troféus estava acontecendo alguma cerimônia, portanto fomos direto buscar os nossos lugares. Que impressão contrastante! Parecia que ali haveria um baile imperial, a qualquer momento entrariam moçoilas rodopiando seus frufrus em uma valsa. Quando vimos o campo a imagem era bem outra.A princípio os três entrariam como mascotes no campo, mas houve um imprevisto e isso acabou ficando para uma outra oportunidade. Assim que o jogo começou senti que os noventa minutos consumiriam uma energia que poderia iluminar uma pequena cidade.Vi as crianças vibrando. Senti que eles estavam percebendo a complexidade do evento e tendo uma lição importante: o que se passa dentro de campo se comunica com o que está a sua volta. Jogo vibrante, platéia eletrizada, olhos fixos, coração palpitante. Como explicar isso através da tela plana de uma 29 polegadas? Aconteceu de tudo. Cartões amarelos, empurrões, um único gol salvador - a vitória deveria fazer parte dessa estréia tão aguardada - até mesmo um pênalti defendido pelo Rogério nos últimos minutos marcado com muita coragem pela juíza (o trio de arbitragem inteiro era feminino). Quando trilou o apito final me senti exaurido como se tivesse jogado pelos 22 o tempo inteiro, tal o meu contentamento e desgaste.Mas ainda havia mais. Descemos ao vestiário para que os guris preenchessem suas camisas com as assinaturas dos guerreiros que aquela festa protagonizaram. O que mais poderia querer uma criança que gosta de futebol? Como ela poderia conhecer o que tanto apaixona nesse esporte se não indo ao campo sem saber se voltaria com a alegria da vitória ou a frustração da derrota? Só sei que ao levar teu filho comigo me certifiquei de uma grande verdade. A cultura do futebol estará morrendo definitivamente se além de vendermos os craques deixarmos de ir ao estádio. É o que podemos fazer. É o que devemos fazer. É o que eu fiz por você, que faz tanta falta! Um grande abraço, Nando (Carta fictícia enviada a Marcelo Fromer)."

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3 comentários:

Anônimo disse...

Comovente.

Não fosse o fato de serem todos tricolores, diria que o enredo é arquitetura divina, empregada pela mente inquieta de Nando Reis.

Mas, como se trata de um mero tricolor, não se pode esperar muito, enfim...

Anônimo disse...

Emocionante.
Uma junção de capacidade de escrever com sensibilidade e saudade.
Um abraço

Anônimo disse...

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