Esse é um domingão marcado pelas águas.
Levantei até meio tarde, final da madrugada, mas cedo para
quem está na praia em “férias”. Depois de uma rápida caminhada pela praia, com
vento gelado e garoa idem, entrei e tomei um banho quentinho. Reconfortante.
Mais tarde, já na casa de meu amigo Luiz Antonio, enquanto
nos preparávamos para cruzar o Canal e visitar seu veleiro, o “Eleonora”, chegou
uma mensagem de socorro de seu filho Francisco. Ele estava no meio do Canal, na
água, depois que capotara velejando num pequeno catamarã. Saímos às pressas,
Luiz e eu, no barco que fica guardado em sua casa.
O mesmo vento gelado da manhã encapelava as águas, que
invadiam o barco conforme avançávamos. Um banho em regra, dos pés à cabeça,
durante todo o tempo. Chicão capotou ao tentar uma mudança de bordo rápida. O
leme escapou de sua mão e o vento fez o serviço inesperado.
Domingão meio cedo, vento leste, frio, garoa... Ninguém no
mar e o socorro demorou para chegar. Com o celular encharcado (como disse
Chicão, a eterna lei de Murphy: o celular estava fora da capa impermeável,
deixada em São Paulo), tudo que restava era esperar a passagem de alguém ou por
nós mesmos, ao cruzarmos o Canal de São Sebastião a caminho da Ilhabela.
Felizmente, antes que saíssemos passaram uns pescadores e um deles ligou para o
Luiz. Foi a deixa para sairmos às pressas.
Depois de localizá-lo e ele embarcar, tentamos desvirar o
catamarã para rebocá-lo com o lado de cima para cima e o de baixo para baixo,
naturalmente. Até não faria muita diferença, mas seria mais fácil por causa do
mastro e das velas.
Tentamos desvirar o catamarã. As primeiras tentativas foram
impedidas pelo vento, que na hora agá jogava contra e empurrava-o de volta para
a água. Mudamos de lado e ficamos a favor do vento, mas tampouco deu certo,
pois agora era o mastro, com as duas velas ainda presas a ele (felizmente), que
impedia a virada. O jeito, portanto, foi rebocá-lo emborcado mesmo para casa,
lenta e cuidadosamente, com a garoa forte açoitando o rosto, vira e mexe
auxiliada pela água das ondas.
Quando saíamos para o mar, tocou meu celular. De um outro
mundo, o Cesar chamava para falar sobre uma vaca no cio e perguntar se havia
sêmen sexado disponível para ele inseminá-la no final da tarde. Sim, claro, passa por lá e pega. Amigos e vizinhos são para essas
horas, mesmo, o que veremos logo mais em sentido reverso.
Curiosamente, uma coisa unia os dois mundos tão diferentes:
o mesmo vento leste, cá e lá. Sei disso porque o Cesar falou do vento e perguntei-lhe
de onde ele vinha. Do lado do Sandro, foi a resposta. Como a propriedade do Sandro
está entre o Sol nascente e o sítio do Cesar...
Tudo resolvido, mais um banho – o terceiro da manhã. Haja água.
Enquanto o Francisco desmontava e cuidadosamente lavava peça por peça de seu
catamarã, um dedo de uísque, puro, cowboy, pra dar uma esquentada, junto com
alguns dedos de prosa com o Luiz, que ainda levou-me para a casa da Carol e do
Rodrigo.
Detalhe: a Rosa disse-me que fiquei melhor nas roupas
emprestadas (secas, que maravilha) pelo Luiz que nas minhas.
Foi quando liguei para o sítio, para o Dito, para perguntar
se estava tudo em ordem.
Tudo. Ou quase tudo: desde ontem a bomba do poço não está
puxando água. Que beleza... Só pra variar, em pleno final de semana. Buenas,
foi, então, a minha vez de ligar para o Cesar, que prontificou-se a dar um pulo
até o Macaúbas e conferir a bomba (o Cesar entende muito de motores elétricos
& acompanhamentos). Pelo jeito, porém, solução de fato só amanhã,
segundona, dia de soluções para os problemas do final de semana.
A festinha de 4º aniversário (festinha... que trabalheira
fazer festa para crianças hoje em dia, coisa de louco, sô!) do Felipe está para
começar. E antes mesmo que ela termine estaremos retornando para São Paulo. Amanhã
cedo, com a bomba do poço à minha espera, voltaremos para casa sem tempo para
“curtir” algo de Sampa. Com sorte, ainda conseguirei pegar uma meia dúzia ou
mais de pães italianos, de preferência na 14 de Julho, se o trânsito permitir.
Paro por aqui, nesse domingão marcado pelas águas, tanto as
presentes e controladas dos chuv
eiros, como a ausente na saída do cano do poço, mas,
principalmente, pelas incontroláveis águas atlânticas empurradas pelo vento
leste no Canal de São Sebastião.
Tudo isso é um pouco da vida como ela é, com seus imprevistos
grandes e pequenos, junto aos amigos, fisicamente ou não, com o futuro sendo
festejado na forma de um bolo e quatro velinhas, enquanto ao lado, ainda no
útero aconchegante da mãe, outra parte do futuro estará presente, quem sabe
(sim, quem sabe?) já participando do aniversário do priminho.
P.s. 1 – Cesar ligou; o problema da bomba está resolvido e a
água está caindo nas caixas. Grande Cesar!
P.s. 2 – Dito ligou, falou que o problema está resolvido e
que ele não botou uréia na cana, pois já começou a chover; grande Dito!
P.s. 3 – Vou dormir tranquilo.
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