O mês tinha começado há alguns dias, mas não tinha chegado. Era
agosto, mas não era. Fazia frio durante a noite e os dias estavam frescos,
agradáveis, bons para ficar trabalhando fora de casa. Não era agosto, não importa
o que dissessem as folhinhas e agendas e sites internéticos.
Ontem, porém, o calor chegou. No meio do dia parecia que estávamos
em pleno dezembro, não fosse a secura do ar já presente. Mas não ventava. Era quase
agosto, mas ainda não era o agosto.
Hoje venta. Começou durante a madrugada e não parou.
A grama está seca, pode-se andar por ela de chinelo ou
sandália e os pés permanecem secos em plena madrugada.
Está seco, tudo seco.
Já ontem o horizonte estava embaçado, sem a transparência cristalina
de um governo europeu ocidental social-democrata, mais com cara e jeito da transparência
brasiliana: opaca, pouco penetrável, decididamente fechada aqui e ali.
Isso, sim, tinha a cara de agosto.
Enfim, agosto chegou.
Quente, seco, ventoso, desagradável...
O mês do desgosto. Ameniza-o, e muito, os aniversários de
meu neto e minha filha. Não bastam, porém, para mudar o estado dos pastos, a
opacidade das folhas das árvores, a poeira depositada sobre tudo e toda parte,
os olhos secos, vermelhos, irritados, fazendo do colírio ferramenta obrigatória
durante o dia inteiro e até no começo da noite. Nesses dias, o lugar mais
confortável da casa é o banheiro, durante o banho, com a umidade tomando conta
de tudo. Pena que não pode durar muito.
Até na política agosto tem lá seus desgostos, maiores que os
gostos. E na noite de ontem, típica noite agostina, um programa tradicional
(que já foi muito melhor, mas continua sendo razoavelmente bom) abriu espaço para
uns defensores e praticantes de uma tal “mídia ninja”. Foi bom, sempre é bom
vermos cair a máscara de quem se traveste em democrata.
Somente num regime democrático é possível vermos os inimigos
do regime falando com total liberdade. É chato, mas é bom à bessa (ou à beça,
como bestamente quer a Academia).
Numa democracia há vida, o que não se pode falar do resto.
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