Depois de mais de 30 dias de estiagem está chovendo.
A primeira pancada chegou de repente, sem as fanfarras
chatas, barulhentas e perigosas das tempestades de verão. Hoje ela chegou em
silêncio, simplesmente começou a cair sobre a camada de poeira que recobre as
folhas das árvores, os telhados, os carros, o capim miudinho.
Enquanto ouvia o barulho aconchegante da chuva caindo e do
pinga-pinga nas laterais da casa, tirava o
pijama e colocava a roupa de
trabalho. Na varanda da cozinha calcei a bota de borracha de cano alto e com a
lanterna numa mão e guardachuva na outra, fui ver os cochos das vacas,
preocupado com a presença da cana picada à qual adicionamos ureia. No cocho de
cima nada mais restava, o que significa que precisaremos aumentar a quantidade
amanhã, ao passo que os cochos das goiabeiras tinham somente alguns restos,
nada que preocupe.
(A chuva agora está mais forte, continuando sem vento,
felizmente.)
Talvez agora a terra fique mesmo molhada, pois a primeira
pancada mal e mal, ou malemá, como diziam minha avó, minha mãe e minhas tias
(como a Dercy, mãe da minha prima Solange Men), molhou a poeira. Agora não,
agora chove de verdade e mais um pouco a água começará a se infiltrar no solo. Pouco
ou nada adiantará para nossos pastos, uma vez que para os capins tropicais não
basta a umidade, há necessidade de calor e bastante luz – do Sol, claro.
Foi bom demais ir examinar os cochos, pois permitiu sentir o
perfume gostoso da terra molhada.
Está ótimo para dormir, mas...
Cadê o sono que me dominava? Certamente
perdi-o lá fora, enquanto andava dos cochos de cima para os cochos das
goiabeiras. Espero que volte logo o bandido, pois a hora de deitar já passou.
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