terça-feira, maio 15, 2007

Piorando, ao invés de...


Pois é, quem procura sinais de otimismo precisa procurar muito.

Lembro da lenda hindu do homem que passou toda sua vida procurando pelo seixo que transformava qualquer metal em ouro. Procurou-o por décadas, sem resultado. Um dia, parou para descansar à sombra de uma árvore e olhou para a velha fivela de metal barato de seu cinto, na qual batia os seixos, dia após dia. E ela brilhava, refulgia até na sombra do arvoredo. Primeiro, desanimou, mas logo recuperou seu ânimo e, mesmo alquebrado pelo peso dos anos, retomou sua caminhada, agora em sentido contrário.

É... Pensando bem, ainda não descobri porque cargas d’água meus neurônios ligaram a busca do otimismo com a busca do seixo mágico. Talvez porque de vez em quando a gente encontre um sinal otimista, mas, tomados por um desânimo que começa a parecer genético, não acreditamos no que vemos e seguimos em frente.

Nesse momento, os sinais negativos abundam. Apesar de todos os riscos, apesar da certeza dos terríveis problemas futuros, dos quais já vislumbramos algumas amostras grátis hoje, ninguém desiste de seu way of life e muda em prol do futuro. Parece que o viver bem aqui e agora é mais importante. E essa postura tem mesmo tudo a ver com o imediatismo de nosso tempo, que nos leva a viver em alta velocidade. Ou melhor, que nos leva a cruzar esse tempo em que vivemos de forma apressada, sem tempo para apreciar nada do muito que temos e poderíamos apreciar. Vivemos sob o signo da urgência e da pressa. É uma civilização que parece querer esgotar-se.

Voltando ao que deveria ter sido o começo, meio e fim dessa crônica, queria dizer que a Suprema Corte dos Estados Unidos, autora de decisões brilhantes em prol do homem, proferiu a que talvez venha a ser a sua mais desastrada e impensada decisão: autorizou a EPA – Environmental Protection Agency – a legislar sobre a emissão de gás carbônico. Não se pode legislar sobre algo que é fonte da vida como a conhecemos. Sem o CO2 tão mal-afamado e criticado, não há vida sobre a Terra. Porque é dele que as plantas precisam para se estruturarem e, ao lado da água e da luz solar, produzir a fotossíntese, liberar oxigênio e produzir a base da alimentação de todos os seres vivos sobre a face do planeta, inclusive as mocinhas desfilantes que parecem viver de brisa e nada mais.

O que provoca o aquecimento global não é o gás carbônico, nem mesmo o que se origina das queimadas. É o gás carbônico que sai do consumo desenfreado dos combustíveis fósseis para fins energéticos. O aquecimento global é filho único, praticamente, do petróleo e do carvão.

Mas a Suprema Corte não poderia legislar sobre o direito sagrado de cada cidadão americano ter sua própria SUV e com ela desfilar por toda parte, desde pegar as crianças na escola e ir ao supermercado até viajar no final de semana para longe da cidade poluída, em busca de um ar puro que começa a virar mito e lembrança remota.

A Suprema Corte não quis submeter os americanos ao risco de se sacrificarem por algo, por mais nobre que seja. É uma sociedade que já não aceita o sacrifício por nada, quase não o aceita nem mesmo por uma boa guerra. Tanto lá como cá, sacrifício é algo irrevogavelmente fora de moda e antiquado. Nada pode se interpor entre nosso prazer e nossa consciência. O último estágio dessa escalada parece estar sendo cumprido na China e na Índia. Também por lá a busca do prazer imediato, do conforto e da posse, está em alta.

O panorama é tão complicado que o próprio Papa Bento XVI incluiu a natureza, a Amazônia, os bosques brasilianos em seus discursos.

Sensação ruim passa tudo isso.


Mas a fivela do meu cinto continua sendo de metal barato.

Já é alguma coisa.

Eu acho.


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2 comentários:

cjb disse...

oi Emerson... perdoe o off-topic, mas enviei hoje de manhã um email respondendo à tua pergunta acerca de vídeos no blogspot.com...

abração

CJB

cjb disse...

Emerson:

Achei o caso em juízo:

foi Massachussetts v. EPA.

Texto da opinião da Supreme Court aqui:

http://www.supremecourtus.gov/opinions/06pdf/05-1120.pdf

Curioso é que os juizes "do bem" fizeram a maioria; os "do mal" (Scalia, Thomas) ficaram no "dissent".

Mas ainda não li as opiniões e, portanto, reservo a emissão da minha até então...