quarta-feira, maio 23, 2007

O nada ao lugar nenhum... Ou...

Falta poesia... Concreta






Ah, como a poesia faz falta na vida e na visão das pessoas.

Sua falta empobrece nosso entendimento da vida e suas manifestações.

Todas as vidas, inclusive a política.

Não, não, nada da velha poesia revolucionária, nada disso. Refiro-me à visão poética, à visão que capta uma imagem e consegue traduzi-la de outra forma.

A visão que permite entender outros homens e suas manifestações que se tornam poesias.

Bom, muita enrolação, né?

E o que faz essa ponte no meio do nada?

Uma ponte ligando o nada ao lugar nenhum...

Poesia, é isso que essa ponte está fazendo.

Apenas poesia, o que já é muito, considerando o que certas pontes costumam ligar.

Há muita poesia nessa imagem.

Só quem já rodou muito por esses sertões afora consegue entender o impacto visual, semântico e poético de uma estrutura como essa.

Olhamos ao redor e nada mais vemos que não o cerrado infindável, suas pequenas árvores retorcidas, as folhas grossas embaixo do sol causticante, a areia que range ao caminhar e transmite aos pés protegidos a quentura que guarda o dia inteiro para só perder noite alta, quando fica fria, às vezes gelada. É um deserto de gentes e belezas, pois só quem não conhece ou é meio pancada acha beleza no retorcido agreste e sofrido das plantas.

E em meio a todo esse nada, a ponte.

Improvável, desprovida de sentido lógico, uma ponte impossível, pois não é possível que alguém se resolva a erguer uma ponte justamente ali. Por baixo dela, cruzando sua sombras, apenas as corridas dos calangos. De vez em quando o deslizar ziguezagueante de uma cobra. Ela lá, eu cá, não vou atrás para saber de sua vida, sua família, suas vontades. E tão logo a cobra deixa a sombra da improvável ponte, tudo volta ao torpor habitual, do sol alto no cerrado sertanejo em algum canto perdido da Terra de Vera Cruz.

Terra de improbabilidades concretas, terra que une o nada ao lugar nenhum, numa aparente nulidade que se anula e se faz concreta.

Bem-vindos à verdadeira poesia concreta brasileira.


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Um comentário:

Anônimo disse...

Esse retrato da "ponte"simboliza como nunca o nosso atual governo.Ele é o símbolo do nosso tão maltratado país. Abraços. Maria Helena.