Carlos Alberto é um desses brasileiros igualzinho a outros 120 ou 130 milhões. De origem pobre, paupérrima, no caso dele, nasceu e cresceu no interior do estado do Rio de Janeiro. Como outros milhões de brasileiros, gosta de jogar bola e, verdade seja dita, leva jeito pra coisa. Num momento da vida conseguiu chegar nas beiradas do mundo maravilhoso do futebol profissional. Mas, coitado, chegou meio tarde. Igual a ele tinha outros garotos jogando bola, embora menos encorpados, menos decisivos nas divididas, menos presentes na hora de se impor perante o adversário. Foi quando uma pessoa próxima a Carlos Alberto disse-lhe que o jeito era diminuir sua idade.
E assim foi feito. Carlos Alberto dormiu com 23 e acordou com 18 anos. Em algumas horas de sono perdeu nada menos que 5 anos de vida. Deve ter batido algum recorde. Lentamente, começou uma trajetória como jogador de futebol. Com sua força física e bom jogo, logo destacou-se. Foi convocado para uma seleção brasileira, a sub 20. Enquanto seus colegas, pelo menos em tese nessa altura do campeonato, tinham 18 ou 19 anos, ele tinha 25. Dominava, destacava-se, apareceu para o mundo.
Foi jogar
Mas, no meio do caminho tinha uma pedra. Denunciado por um procurador ou agente que ficou fora da divisão do dinheiro ganho com a transferência, viu-se nas manchetes: “Gato!”
Uma noite, foi dormir com 23 anos e acordou com 28, já a caminho dos 29. deve ter sido outro recorde, agora no sentido inverso.
A ida para o São Paulo não aconteceu. Ficou num desvio no tempo e no espaço, condenado, duramente, a um ano de suspensão. Coisa excessiva para quem fraudou para ganhar a vida e manter a família, enorme e paupérrima, como toda família brasileira pobre que se preza.
Bom, mas Brasil é Brasil, e se assassinos safam-se com alguns dias de prisão apenas, por que o rapaz cumpriria tão longa pena? Cumpriu metade – bandidos cumprem,quando a sociedade tem sorte, apenas um terço ou um sexto – e a outra metade pagou hoje com 100 cestas básicas para uma instituição de caridade. Vale dizer que nosso personagem – para não chamar de herói – já está
E vem entrevista pra cá, entrevista pra lá. Humilde, fala das dificuldades que a vida lhe apresentou. Conta que trabalhou como pedreiro e até numa fazenda.
Opa!
Como é que é?
Pois é, pobre garoto pobre do interior fluminense, trabalhou até numa fazenda, imagine você, estimada leitora, estimado leitor. A que ponto chegou o pobre garoto pobre para sobreviver e levar algum dinheiro para sua casa carente e cheia de irmãos e parentes pobres.
Até numa fazenda...
Como é triste ler ou ouvir isso.
E como é comum, rotineiro, ouvirmos e lermos coisas assim.
O trabalho no campo é visto como degradante ou como última possibilidade de sobrevivência para quem está ali mesmo, no campo.
Poucos querem ficar nas fazendas e sítios. É uma vida sem charme, sem glamour, sem os brilhos esfuziantes da vida nas cidades. Ficar no campo é um castigo, verdade seja dita.
Todo pai e mãe que se preza, trabalha e planeja o futuro dos filhos longe da roça, mesmo que sejam eles os donos da roça. Pois, ao contrário do que pensam e afirmam com serena certeza os “povos urbanos”, a vida na roça é dura e sem perspectiva.
Mas disso nada sabem os povos das cidades, dos condomínios, dos congestionamentos, da queima dos combustíveis fósseis batendo pernas atrás de nada, a troco de nada.
E quando sabem de alguém que mora e trabalha na roça já imaginam um felizardo, um potentado, um folgado indivíduo que passa suas horas na rede, olhando os bóias-frias se matarem nas roças propriamente ditas, embarcando depois em gloriosa pickup último tipo e indo para lugares de decoração brega, beber uísque e cativar as mocinhas boas de famílias más. Como se todo produtor rural fosse um nobre parlamentar da capital federal.
Carlos Alberto e, acredito eu, seus parentes paupérrimos de origem, já não moram e muito menos têm que trabalhar numa fazenda. O dinheiro farto para alguns do futebol encarregou-se de tirá-los dessa vida. São seres urbanos plenos. Não pisam na lama, não comem poeira, não tomam chuva ou sereno nas madrugadas geladas. E o calorão brabo dos trópicos é enfrentado no escritório com o ar condicionado no máximo, queimando energia adoidado, mas mantendo a vida doce e as cabeças frias.
Carlos Alberto e seus familiares subiram na vida. Parabéns.
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Um comentário:
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