Ricardo deixou o Peru e foi para Paris, seu velho e mais forte sonho. No Peru ficaram a infância e a adolescência, com suas lembranças a cada dia mais gostosas e perfeitas para a maioria de nós, mas não para ele, com uma exceção. Ficaram as histórias e pequenas aventuras, os namoricos, as amizades primeiras que deveriam ser, também, as últimas, o que neném sempre acontece, a sensação de estranhamento numa terra que não sente como sua, em meio a pessoas que são as suas, mas com as quais tem pouca identidade.
Em Paris ele constrói sua vida e encontra uma figura perdida de seu passado, que se faz cada vez mais presente e ativa em sua vida, ano a ano, modismo após modismo, crise depois de crise, no mundo, na França, na Inglaterra, no Peru.
Tal como na vida real, as mudanças fazem o pano de fundo para o cotidiano, interferindo nele sem que percebamos, na maioria das vezes. De Paris, Ricardo tem uma visão acurada do Peru e - por que não? - de toda a América Latina. Mas o leitor ou leitora a quien no le gusta la politica y sus personajes não ficará aborrecido, pois essa visão é como o café-da-manhã, almoco e janta em nossas vidas, um pano de fundo ao qual vez ou outra prestamos atencão, e cuja presença aceitamos com naturalidade. E não tema a leitora ou leitor que gosta de romance em suas leituras, pois esse ingrediente não falta em "Menina Má".
Aos amantes do panfletismo ideológico o livro deixará a desejar, felizmente.
E, finalmente, aos que gostam de boa literatura, sobretudo aos que gostam daqueles livros aos quais nos grudamos e não conseguimos desgrudar até virar a última página e deparar com a sobrecapa, eis uma indicação segura. Na reta final, só consegui desligar o abajur e dormir depois de deparar com a sobrecapa. E isso madrugada alta, felizmente num começo de fim de semana. Mas como um bom pinot noir, seu gosto ficou em minha memória, e sua riqueza permite combinar diferentes sabores e aromas. Minha primeira leitura de “Travessuras da Menina Má” é pobre e incompleta, bem sei. Com o tempo farei novas leituras, descobrirei aromas e sabores ainda não revelados para o meu paladar pobre, que ficou preso a dois gostos, um dos quais relatei – a visão política sobre Latino América. O outro deixarei quieto, por ora.
Meu exemplar já viajou, tão logo terminei sua leitura. Minha filha, de quem ganhei-o como presente de aniversário, levou-o embora. Espero que goste dele tanto quanto eu gostei.
"Travessuras da Menina Má" é o mais recente livro de Mario Vargas Llosa, um dos meus escritores preferidos desde sempre. Tive a sorte de conhece-lo nos distantes anos 70, logo em seu comeco, lendo no original aquele que foi seu livro mais importante durante muito tempo e transformou-o em escritor de renome, "
Não gosto apenas de seus livros, gosto, também, de sua atuacão na vida como escritor e como político, onde chegou a candidato à presidência, sendo derrotado pelo "Chino", o Alberto Fujimori de triste lembranca. Que pena, Peru.
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