segunda-feira, novembro 27, 2006

A caminho da extinção


Gosto de comédias românticas. Se for dirigida pela Nora Ephron e com o Tom Hanks e Meg Ryan, gosto mais ainda, como, por exemplo, “You've Got Mail”, ou “Mensagem Para Você”, em nossos cinemas e locadoras. Nesse filme, a Meg tem uma pequena livraria em Nova York – “The shop around the corner” – especializada em literatura infantil, e vê sua loja ameaçada e, finalmente fechada, com a chegada de uma mega-livraria bem próxima, oferecendo de tudo, de capuccino a livros com descontos. Tom Hanks é o principal executivo desse monstro do mal, claro, e os dois... Bom, quem não viu, veja. Comedinha gostosa para um fim-de-semana chuvoso.

Lembrei disso por conta de matéria no Estadão desse sábado, dando conta que caiu o número de cidades brasileiras com livraria. E cresceu o número das que tem provedor de internet.

De acordo com a matéria, em 1999, apenas 16,4% dos municípios brasileiros tinham provedores de internet para conexão à rede mundial de computadores; esse percentual evoluiu para um espantoso índice de 46% do total de municípios com provedores em 2005. Uma notícia alvissareira como a chuva que cai nesse momento. E esse número deve ser muito maior hoje, um ano depois, já que tudo relacionado à internet move-se a velocidades estonteantes.

Nesse mesmo ano, apenas 30,93% dos municípios da Terra de Vera Cruz tinham livraria, número que era de 35,5% em 1999 e hoje deve ser muito menor, até porque a livraria que tínhamos em Santa Rita do Passa Quatro fechou. Cheguei a comprar alguma coisa, mais para ajudar, mas não adiantou. O Brasil ainda não tem mercado para sustentar esses “luxos” fora das grandes cidades, onde as mega-livrarias, que já colocam no bolso aquela do Tom Hanks, ocupam mais e mais espaço.

Pelos nossos padrões eu sou um grande consumidor de livros, um heavy customer, comprando entre vinte e trinta livros por ano, pelo menos. E sempre fui membro daquela subespécie – Homo sapiens rattus bibliothecae – popularmente conhecida como rato-de-livraria e que parece, pelo andar da carruagem, a caminho da extinção. E com a minha decidida colaboração, pois há tempos nada compro numa livraria, exceto na do Aeroporto de Congonhas, onde comprar um livro ou dois é parte do ritual de viajar. Faço minhas compras pela internet. Confesso envergonhado, mas confesso.

Tanto na livraria do Aeroporto – pela pressa – como pela internet, fico privado de um dos prazeres que os livros nos dão: seus cheiros. Numa velha e boa livraria, às antigas, olho em volta, olho de novo, disfarço e, rapidamente, levo o livro ao nariz e aspiro seu perfume. Cada livro tem um diferente, mesmo nessa era globalizada e pasteurizada. Os livros antigos também têm, assim como também têm ácaros e assemelhados, motivo pelo qual é melhor mantê-los a certa distância do nariz.

Comprando pela internet a economia é sensível e nesses tempos de vacas magras e bolsos vazios, economizar é essencial, mesmo que só dê para sentir o cheiro do livro comprado quando ele chega em casa.

Nesse momento não vejo ibama capaz de reverter essas extinções: a das livrarias-livrarias e a dos ratos-de-livraria. E é chato ver esse movimento de mercado e mais chato ainda ser parte dele, satisfeito, mas a contragosto. Ou seja, é ruim, mas é bom, e vida que segue.

Entenderam? Pois é, nem eu.



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