segunda-feira, junho 05, 2006

O Mensalão aniversaria


(Esse texto tem trilha sonora; é aquela nossa velha conhecida, a primeira música de todos nós, com certeza, o “Parabéns pra você”.)


Parabéns pra você,
Nessa data querida,
Muitas felicidades,
Muitos anos de vida.

E pro Mensalão tudo?
Nada!
Entao como é que é?
É pique, é pique, é pique, pique, pique...



Sim, leitores amigos e amigas leitoras, amanhã, 3ª-feira, o Mensalão completa seu primeiro aninho de vida. A festança é boa, imperdível, mas há dois poréns, aqui. O primeiro é legal, condizente com o espírito festeiro e festivo de nossa gente e de nossas autoridades: eu usei o verbo no presente – a festança é boa – porque a festa nunca parou, sempre foi uma festa permanente, uma rave como esse país e o mundo nunca viram, para falar como o grande líder e guia espiritual lulla da Silva. O segundo porém dessa festa é meio chato: apesar de ser patrocinador da dita cuja, você não está convidado e sua eventual presença junto aos foliões será barrada. O que, convenhamos, será muito bom para seu currículo ao bater nas portas do Céu e ser entrevistado por um dos assessores de São Pedro. Vai que esse assessor resolva te julgar pelas suas companhias?

É até difícil imaginar que há somente um ano não conhecíamos e nada sabíamos de Marcos Valério, de Silvinho “Land Rover” Pereira, de Delúbio Soares... Esse até já tivera seu nome ventilado aqui e ali, curiosamente associado a catastróficas previsões de queda de governo se um dia abrisse a boca ou fosse investigado. Bom, Delúbio não abriu a boca e o governo está aí, firme e forte a caminho da reeleição. Pouca gente abriu a boca, de fato. A rigor, só os irmãos do prefeito assassinado de Santo André, um dos quais exilado em país incerto e não sabido, juntamente com a família. Também um caseiro abriu a boca e por conta disso um ministro caiu, mas outro ministrão, o ex-primeiro-ministro, permaneceu forte e rijo, gozando, sem problemas, da estima de seus pares no governo e, curiosamente, sobre os mesmos exercendo estranha autoridade, estranho fascínio. Agora, com tempo sobrando, sua agenda é ocupada pelas anotações de horários de vôos e destinos atraentes, na Europa e Norte América. Em primeira-classe, é óbvio, afinal, ninguém é de ferro.

Os mais notórios mensaleiros foram julgados por seus pares e absolvidos; o cúmulo da desgraça associada a tudo isso, foi a nação, estarrecida, ter apreciado esdrúxula dança de não menos esdrúxula deputada, componente da bancada própria do ex-primeiro-ministro da República e, ela mesma, saída de uma administração municipal prenhe de denúncias as mais diversas.

Animado com tamanho festim e crente na máxima que todos os brasileiros são iguais, parei de pagar minha conta da TV por assinatura pela internet e passei essa incumbência para minha mulher. A cada conta que ela vai pagar fico em casa, ansioso e esperançoso, sentado na porta da sala, aguardando sua volta com o boleto pago e mais cinqüenta mil reais na nossa conta, tal como ocorreu com a mulher do João Paulo Cunha, deputado do partido dos trambiqueiros por Osasco, bem aqui ao lado. Lembram dele? Não? Ele é aquele deputado que era Presidente da Câmara, o terceiro posto em importância na República, e que foi sucedido por um certo Severino, senhor muito afeito a tirar motorista bêbado da cadeia e a ganhar dinheiro no ramos dos restaurates. Quanto a essa história de pagar a conta da TV e ganhar cinquenta mil reais, estou começando a achar que deve ser um tipo de loteria, pois já pagamos onze contas e até agora só conseguimos um reajuste na tarifa. Para mais, é claro.

Andei misturando o assassinato do prefeito, que na verdade são assassinatos, pois foram dois os prefeitos assassinados, e o caso do caseiro, e o Severino, e o deputado com a mulher pagadora de contas, e leio que em poucos anos mais de vinte bilhões de dólares saíram do Brasil, através de dedicados doleiros, rumo aos Estados Unidos da América e essa mistura toda provocou-me forte enxaqueca, que é o que acontece quando ingerimos coisas vagabundas, podres, de má qualidade, e agora terei de ir à cozinha e engolir um comprimido ou dois. Pelo menos a enxaqueca eu conseguirei eliminar.

Boa semana, boa Copa e não esqueçam, amanhã, 3ª-feira, o Mensalão faz aniversário. Já comprou um presentinho?

(Em tempo, o “Nada” no “pique-pique” está no lugar certo: nada de penalidades, nada de condenações, nada de nada. Vida que segue.)


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