domingo, dezembro 09, 2007

Ecologicamente diversificado e bem localizado



Esse título parece pretensioso, principalmente porque refere-se ao Sítio das Macaúbas, mas é verdadeiro.
Santa Rita do Passa Quatro está localizada numa região muito interessante do estado de São Paulo, em seu centro-norte,
numa área conhecida como Terras Altas Paulistas.
Salvo engano, e tirando o trecho meridional do estado, essa é a região mais alta do planalto que ocupa a quase totalidade do estado,
excetuando as regiões serranas, naturalmente.

O sítio, em particular, está numa altitude superior a 700 metros acima do nível do mar, e essa característica nos traz dias quentes e noites frescas ou frias em boa parte do ano.
Para as plantas, isso é benéfico para a maioria, e assim podemos plantar e colher frutas d
e clima temperado como pêssegos, uvas e peras, bem como mangas, típicas dos climas tropicais. As minhas atuais meninas-dos-olhos são dois pés de castanha-portuguesa, e torço muito para que se desenvolvam e frutifiquem bem.

Santa Rita do Passa Quatro não tem araucárias, aparentemente. Tampouco as tem São Carlos do Pinhal, a menos de 75 km em linha reta, e altitude semelhante.
Mas elas lá existiram em tão grande quantidade que deram o nome à cidade.
O progresso, a abertura das matas para o plantio de café, a urbanização, tudo isso levou ao desmatamento de toda a região. As araucárias foram vítimas prioritárias, dada a qualidade de sua madeira, e foram, praticamente, extintas.
Acredito que restem algumas resistentes nativas po
r ali, e seria maravilhoso se houvesse um trabalho de recuperação dessas plantas fantásticas e bonitas.

Há um programa a respeito em desenvolvimento no estado, mas parece-me que para as áreas do sul e da Mantiqueira.
Seria bom que ele englobasse, também, as araucárias da Serra do Mar e as sobreviventes dessa região central, pois seus genes são
diferentes e geraram árvores adaptadas a condições ecológicas distintas das existentes na Mantiqueira e na parte sul do planalto.

Plantei algumas no sítio, cerca de doze.
Duas não se desenvolveram e outras foram “assassinadas” pelos bezerros novinhos, graças à nossa inexperiência.
Não sei, entretanto,
qual a procedência genética das mudas plantadas.

Plantei-as no sítio - como essa da foto, ainda faltando alguns anos para abrir a copa típica - porque acredito que, no passado, Santa Rita do Passa Quatro também foi lar de araucárias nativas, até porque temos muitas gralhas, e todos sabem que as gralhas têm importante papel na disseminação dessas plantas, “colhendo e enterrando pinhões para uso futuro”.
Na verd
ade, tal como as maritacas e outras parentes tagarelas, elas pegam pinhões e deixam-nos cair, parcialmente bicados, mas sem afetar seu poder germinativo, pelo contrário, estimulando a germinação.

Se as araucárias e seus pinhões são uma incógnita, o mesmo não ocorre com as plantas do cerrado e as plantas da Mata Atlântica e sua “irmã-de-sangue”, a floresta latifoliada da Bacia do Paraná.
Um passeio atento pela minúscula área do Sítio das Macaúbas é o bastante para revelar habitantes famosos desses dois ecossistemas. Vamos conhecer alguns, a maioria deles cerradenses.

O primeiro, faço questão, é o pequi. No sítio restou um só pé de pequi, bem na beira do asfalto para meu desgosto e irritação.

Ele não é muito desenvolvido, e está misturado com outras árvores, mas dá conta do recado e até produz bem.

Esse ano, novamente, ele está com uma boa carga e eu, uma vez mais, estou ansioso à espera que amadureçam para poder colhe-los, pegar as sementes e formar algumas mudas.

Muita gente desconhece o fato do pequi também ser nativo no cerrado paulista, que começa pertinho do sítio, na região de

Piraçununga ou Pirassununga. Por sinal, os primeiros trabalhos científicos sistematizados e de longo prazo sobre o cerrado, começaram no Cerrado de Emas, a região em torno da Cachoeira de Emas, no Rio Mogi-Guaçu, onde, por sinal, além de estações de pesquisa do Estado, tem, também, um dos campi da USP.


Outro cerradense típico e nativo nosso é o araticum também chamado de marolo.



Ele nasce no meio dos pastos, mas o gado, sempre se coçando, raramente deixa algum pé ir pra frente.


Esse pé (na verdade uns três ou quatro juntos) aqui ainda tem muito que crescer.

Foi com pesar que vi esse belo fruto caído no chão.

Ainda no dia anterior ele estava firmemente preso à árvore, mas os ventos de uma tempestade vespertina jogaram-no no chão.

Reparem que nessa foto do fruto

na árvore tem, ao fundo, à esquerda, uma flor.
O novo florescimento e

o amadurecimento dos frutos da safra anterior coincidem, e há um ano entre um e outro.


Agora o fruto cortado ao meio. Esse pesava cerca de trezentos gramas.

Seu gosto e perfume são muito doces, um pouco enjoativos, mas a passarinhada e bichos diversos de pelo apreciam-no muito.

Dizem que é muito bom

para fazer suco, mas não tentamos.

Quem sabe na próxima safra?


Jatobá-do-campo, outra planta típica do cerrado, outro habitante do Sítio das Macaúbas.


Sua sombra é espetacular, pois é fresca e agradável, ao contrário da sombra de muitas outras árvores, como as grandes mangueiras.
Isso acontece porque o interior de sua copa é bem vazio, permitindo ampla circulação do ar mais quente ao nível do solo, que está sempre subindo.

Essa é outra planta que merece ser protegida e propagada, ao contrário de seu primo, o jatobá, bem mais comum.


Um velho jatobaseiro é sempre uma árvore imponente pelo porte e pela beleza. Esse aqui não foge à regra, postado bem na divisa do Sítio das Macaúbas com o Sítio Mandarim. Reparem que à frente dele tem outras duas plantas importantes: uma palmeira macaúba ainda bem jovem e depois um exemplar de pau-brasil, já com alguns anos de vida, mas crescendo direitinho.

A macaúba foi plantada por alguma arara ou outro bicho, já o pau-brasil foi uma das primeiras árvores que plantei no sítio. Eram dois pés, na verdade, mas um morreu.

O fruto do jatobá é bem conhecido, acredito, com seu cheiro, gosto e consistência bastante típicos e facilmente reconhecíveis.

Os macacos gostam muito dele, assim como os bichos de penas de maior porte e bico forte.



Bons representantes das matas atlântica e latifoliada, são a copaíba e o jequitibá, mas esses deixo para mostrar mais pra frente, assim como outras árvores, inclusive do cerrado, que tem uma flora riquíssima e diversificada.


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