Tempos atrás, logo antes do Natal, queixei-me nessa telinha que não andava muito inspirado para escrever por causa do assassinato bárbaro da família de Bragança Paulista, queimada viva dentro de um carro. O menino de 5 anos ainda foi tirado do inferno do fogo com vida, por uma moça amiga de seus pais e que estava também no carro. Em vão; ambos, o menino e sua salvadora, sobreviveram mais alguns dias e morreram.
Depois foi a vez de um ônibus no Rio de Janeiro, incendiado com mais de vinte pessoas dentro, das quais sete morreram.
Agora foi outro crime para o qual, assim como para esses anteriores, fica difícil encontrar adjetivos. Falo da morte do menino João Helio, no Rio de Janeiro, também, arrastado fora do carro, preso ao cinto de segurança, por nada menos que sete quilômetros por quatro diferentes bairros cariocas.
Como ser humano relativamente normal, a única coisa que desejo para todos os culpados é o linchamento pelos mesmos métodos que empregaram para matar e desgraçar para sempre a vida de muitas famílias.
Claro, meu desejo é selvagem e tão bárbaro quanto os atos dos assassinos. É o que dizem a moral e o direito, ou melhor, a “ciência do Direito”, como fui corrigido nesses dias por uma blogueira.
É, não deixa de ser correto, e bem sei que, com tais desejos, estou entrando no reino da barbárie, respondendo da mesma forma.
Bom...
Está certo, sejamos civilizados.
E daí?
Se a coisa que atende pelo nome de Congresso Nacional votar e aprovar a lei que endurece o tratamento penal aos autores de crimes hediondos for aprovada, os indivíduos que os perpetram “só” poderão receber o benefício da prisão semi-aberta – e outros – depois de cumprirem módicos 40% da pena.
40%!
Esse é o valor da vida humana no Brasil.
Uma pechincha. Poucas liquidações vendem seus produtos encalhados tão barato assim.
Pior ainda: na prática, na vida real, sabemos que nem mesmo esses 40% serão cumpridos pelos assassinos. E mais: viverão à larga nas prisões, mandando e desmandando, falando aos celulares, consumindo suas drogas prediletas, recebendo visitas “íntimas”. E nem por sonho irão para celas individuais, sem contato com outros assassinos. A legislação penal brasileira considera isso desumano e estabelece prazos máximos para manter os assassinos em tais celas, por sinal existentes em apenas dois presídios em todo o país.
Esse é um lado da questão.
O outro lado é mais triste. E ainda mais preocupante.
Há alguns anos, coisa de três ou quatro, um pesquisador americano encontrou uma causa interessante para o declínio da criminalidade nos Estados Unidos: a aprovação, no início dos anos 80, da liberalização do aborto. A relação, uma vez conhecidos os fatos e colocados lado a lado, é óbvia: liberado o aborto, houve uma redução no nascimento de crianças sem famílias ou em famílias de baixa renda, que não teriam condições de proporcionar a elas ambiente saudável e educação razoável.
Falar esse tipo de coisa pega mal na Terra de Vera Cruz. Quem fala isso já é associado com a “direita”, palavra no Brasil associada a tudo de ruim que o ser humano já criou, enquanto sua contrapartida, a “esquerda”, é a responsável por tudo de bom criado pela humanidade. A “direita” é a personificação do mal.
A “esquerda” e seu braço útil, a igreja católica tupiniquim – pronto, isso já basta para caracterizer-me como um radical de extrema-direita –, têm boa parte, para não dizer toda, da responsabilidade pelo quadro que vivemos hoje: crianças nascem aos montes, paridas por meninas de treze, quatorze, quinze anos, que depois do primeiro parto engatam mais um, dois, três...
Milhões de crianças vêm ao mundo sem lar e sem família, sem acesso a uma educação que seja no mínimo razoável. Isso quando têm acesso a alguma educação.
Não tenho dados à mão, mas sabe-se que a capacidade intelectual, o famoso QI, anda muito em baixa junto aos extratos mais pobres da sociedade. Inteligência e capacidade de aprendizado estão intimamente ligados ao consumo de proteínas e outros nutrientes desde a gravidez, associados, depois do nascimento, a ambientes saudáveis e estimulantes. O que vemos hoje é um círculo vicioso: crianças já deficientes nesse ponto trazendo ao mundo outras iguais ou piores.
Isso é triste, mas não é falso. Boa parte dos jovens e já não tão jovens de hoje são semi-alfabetizados. São, como disse um educador que não recordo, analfabetos funcionais. E o mundo, hoje e cada vez mais, só tem trabalho para pessoas capazes de ler e entender e aprender como lidar com máquinas mais e mais sofisticadas, com softwares que dominam nossas vidas minuto por minuto. Para trabalhar, é preciso mais que mãos e pés, é preciso uma cabeça com um mínimo de condições e conhecimentos acumulados.
Nossa população está crescendo no rumo oposto.
Que futuro está reservado a esses muitos milhões de bebês, crianças e jovens?
Tenho medo de pensar a respeito.
Enquanto isso, a única coisa “real e prática” que a sociedade consegue fazer é dar o nome do menino assassinado nas ruas cariocas a um estádio de futebol.
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Um comentário:
Bem que eu não queria, mas concordo com tudo que você escreveu, principalmente a previsão que vai ficar ainda pior.
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