O carro tem ficado ao relento. Ontem e hoje amanheceu
sequinho, como se tivesse pernoitado numa garagem fechada. Duas madrugadas
secas, mas frescas, o que não é bom para as plantas e animais, mas é confortável
para nós, os humanos.
Durante o dia vi a fumaça de uma grande queimada, coisa
estranhíssima, já que estamos em janeiro, a safra de cana acabou há muito, não há
cana disponível por perto, pronta para corte, sem falar que as usinas queimam pouquíssimos
talhões, cada ano menos, até chegarem à queimada zero (no ano que vem ou no
próximo, não tenho certeza). Ao levar o Dito para casa, no final dessa tarde,
vimos o estrago: o canavial de um de nossos vizinhos, na parte alta de sua
propriedade, foi queimado. Tudo indica ter sido mais um incêndio criminoso e o
fogo foi tocado num dia e hora em que o caminhão-bombeiro mais próximo (a usina
Ferrari mantêm caminhões de plantão; um deles salvou meu pequeno canavial e a
comida das vacas, ao avistar um fogo criminoso aqui no sítio; o motorista parou
e, sozinho, com o potente canhão-d’água, conseguiu debelar o malfeito). Quando o
caminhão chegou o fogo já se alastrara. Um prejuízo para a usina, um gigantesco
prejuízo para o vizinho, que tem parte de sua renda oriunda do arrendamento da
terra para a usina.
(A foto foi tirada de casa, com a resteva do milho em
primeiro plano, onde será plantado sorgo; a fumaça ao fundo é do incêndio do
canavial.)
Depois de deixar o Dito em casa fui para o Estrelão, o mercadinho
do Sergio, no distrito de Santa Cruz da Estrela.
- E aí, chegou a carne? – perguntei-lhe, pois sexta-feira é
dia do caminhão do Friboi abastecê-lo.
- Você não imagina o que aconteceu com a minha carne –
respondeu-me.
- Que foi, roubaram os bois? – perguntei brincando.
- Um bando de caras armados parou o caminhão na estrada do
Porto (Porto Ferreira) para cá, levou pro meio do canavial e roubaram a carne. Não
sei se toda, mas roubaram.
- Caraca, Sergio! Sério mesmo?
Sim, era sério mesmo. Essa carne é fácil de roubar,
transportar, comercializar. O caminhão já entrega cortada em peças, dentro de
caixas de papelão pesando entre 24 e 30 quilos. Somem no meio dos canaviais,
desembocam em outras estradas e aí é correr pro churrasco.
Assim vai seguindo a vida no varonil Brasil desse começo de
século XXI.
Ah, é verdade, você está pensando por que diabos terá sido
criminoso o incêndio no canavial, né?
Quando há motivo, é vingança, mas é raro. É apenas
manifestação da doença que cresce a galope por aqui. Mas chamar de doença é
perigoso, vão dizer que é psicopatia e não é caso de polícia e sim de
tratamento.
Não é doença, é apenas o mal se manifestando por prazer. Nada
mais.
Agora à tarde a Boneca pariu. Nasceu Cybele, que fará
companhia para a Cynara. Que estava sem nome até essa tarde, mas como o Zé foi categórico
com o Cybele... concordei. E tasquei Cynara na filha da Brahma, para quem um
amigo indicara Didinha e, confesso, eu havia pensado em Devassa.
Pode isso?
Não, né? Cynara é muito melhor.
(Boneca e Cybele, uns quarenta minutos depois do parto.)
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