Esse título foi, também, uma das palavras de ordem de Maio 68 em Paris.
É, também, a idéia básica que norteou a criação de universidades públicas por todo o Brasil.
É, também e finalmente, uma decorrência lógica de uma universidade ser daqueles que a sustentam, ou seja, o povo.
Bom, com relação à Universidade de São Paulo, a USP, a primeira frase é mera utopia.
A segunda frase é tão somente retórica política.
A terceira frase é uma manifestação de idiotia de quem acredita que o contribuinte, o povo, tenha direito a algo que faça parte da estrutura do Estado tupiniquim. Aqui, o Estado é para si próprio e seus apaniguados e funcionários, jamais para o povo.
E por que toda essa discurseira raivosa contra uma instituição tão fantástica como a USP? Sim, porque é tão somente da USP que estou tratando, embora, com toda certeza, tudo que vem a seguir aplica-se a todas as demais universidades públicas dessa Terra de Vera Cruz.
Criada para ser popular, a USP tornou-se elitista, pois o acesso a seus cursos depende de excelente pontuação no vestibular, o que só é conseguido, basicamente, por quem vem de boas escolas e estudou bem e bastante. Pobres, portanto, estão excluídos, até porque as escolas que os pobres freqüentam, gratuitamente, pois da rede municipal ou estadual, não passam de depósitos de jovens e centros de má-formação.
Criada para servir, ela mais serve a si própria que à comunidade que a sustenta.
Finalmente, há pouco mais de dez anos, a USP fechou-se, fisicamente, para a população. O passeio de fim-de-semana de milhares de pessoas, em boa parte famílias inteiras com crianças e idosos, inclusive, acabou. A Universidade fechou seus portões ao povo, com medo dos estupros, roubos e assaltos.
Numa típica solução autoritária, comodista e voltada para o próprio umbigo, proibiu-se o acesso das pessoas sob a desculpa esfarrapada da segurança. Houve, sem dúvida, uma diminuição nos números de casos, mas não a extinção dos problemas.
Em nenhum momento a Universidade pensou em trabalhar em conjunto com a Polícia Militar. Ah, não, isso jamais, onde já se viu permitir a entrada das forças repressoras do Estado no solo sagrado onde o saber é gerado?
Em momento algum a Universidade pensou em algo como ser policiada pelos cadetes da Academia da Polícia Militar e por soldados em fase de treinamento. Ambas as categorias – cadetes e soldados – começariam suas vidas de policiais trabalhando com uma elite intelectual e ciosa de seus direitos e prerrogativas. Poderia, quem sabe, ser um excelente começo para que depois fossem para as ruas onde vive o povo real, a população que sustenta a Universidade.
Foi mais fácil fechar os portões.
Há duas semanas, num fim de tarde de sábado, fui à USP para assistir “Antígone”, no Teatro da ECA – Escola de Comunicações e Artes. Para entrar no campus demorou cerca de cinco minutos, aguardando a segurança liberar um carro de cada vez. Quando chegou a minha vez disse “Teatro” e fui liberado. Como sou cidadão de bons bofes e hábitos, e seguidor das leis, fui para o teatro, bonitinho. Assim como poderia ter ido para qualquer outro lugar. Como fizeram alguns visitantes no sábado e no domingo anteriores. Em dois roubos, levaram mais de 120 mil reais de caixas automáticos, fizeram reféns, bateram, aterrorizaram e saíram incólumes, sem nenhum problema, inclusive os ladrões do dia seguinte.
Na USP é assim: o cidadão não pode passear com sua família, mas os ladrões podem fazer a festa à vontade. Afinal, no solo sagrado da geração do saber é proibida, também, a entrada da polícia. Exceto para recolher as sobras dos roubos e, qualquer dia, os corpos das vítimas.
A Universidade cria e é criada pelo monstro que é o Estado brasileiro e sua burocracia.
Definitivamente, a universidade não é do povo e não é para o povo.
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Um comentário:
Meu caro Emerson, como você falou o problema não é exclusivo da USP, infelizmente...
A nossa UFRJ também tentou proibir o policiamento ostensivo no seu campus. O que foi impossível, é claro. No estado calamitoso em que se encontra o Rio, aquele campus enorme, completamente deserto de PMs ou afins, foi um chamariz para todo o tipo de bandidagem.
A reitoria cedeu. Ou o governo do estado ignorou, não sei.
Hoje a PM entra e sai a hora que quer e ninguém reclama.
Não sei se acabou a violência por lá... acho que não. Mas pelo menos você sabe a quem recorrer.
Só espero que a situação aí na USP não precise se degradar tanto para que esse tipo de "jeitinho carioca" seja adotado.
Seria uma lástima.
Um abração.
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