segunda-feira, março 03, 2008

Ficção virando realidade?


Há alguns meses escrevi uma minúscula peça de ficção política aqui nesse Olhar Crônico (“Reunião de Cúpula em Washington, postado em 9 de novembro de 2007).

Ela contava a chegada a Washington da Presidente Marisa Letícia para uma reunião de cúpula com as presidentes Hillary Clinton e Cristina Kirchner. Desde então, Hillary parece ter sucumbido ao furacão democrata Obama, Cristina foi eleita, como já era sabido que seria, e Dona Marisa Letícia continua papagaio-pirateando o maridão por toda parte, até na Antártida, mas, sei lá, hoje eu já acho mais provável Dona Dilma, por sinal o nome da minha progenitora, do que Dona Marisa Letícia, a italiana com passaporte brasileiro – ou é o contrário? –, na presidência desse imenso bananal.

O motivo ficcional que gerava essa cúpula americana, todavia, parece próximo de tornar-se realidade, o que, felizmente, não acontecerá: a invasão da Colômbia por tropas venezuelanas de Hugo Chávez.

Pois é...

Ontem, ao regressar do sítio e ligar o computador à noite, fui surpreendido com a notícia da morte do número 2 das chamadas FARC – grupo de bandidos com formação paramilitar – pelas tropas colombianas. Hoje, com mais detalhes, sabe-se que o indivíduo em questão foi morto pela explosão de bomba teleguiada, dois quilômetros dentro de território equatoriano, disparada a partir de um Super-Tucano T-27, fabricado em São José dos Campos e vendido para a FAC – Fuerza Aérea Colombiana. Esse detalhe com dois quilômetros de comprimento – essa era a distância a que o alvo estava da divisa entre Equador e Colômbia – provocou um protesto ensandecido de Chávez, que fechou sua embaixada em Bogotá e mandou dez batalhões de seu exército para a divisa da Venezuela com a Colômbia. Não satisfeito com tão fantástica demonstração de machismo, digo, poder e indignação, foi além, e chamou o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, de “cachorro americano” e “assassino”.

Chávez é um poltrão que gosta falar alto e contar vantagem, sendo ouvido porque senta-se sobre um monte de barris de petróleo. Não o chamo de palhaço porque palhaços não têm poder de vida e morte, somente o de fazer rir ou chorar. Chávez faz rir por conta de muitos de seus atos e pretensões megalomaníacas, faz chorar, e chorar muito, a milhões de pessoas, e tem, sim, o poder de matar, agora multiplicado e em velocidade supersônica, graças aos caças Sukhoy comprados da Rússia e que já ameaçou – como ele gosta de ameaçar – enviar contra os aviões colombianos.

Analistas políticos acreditam que tiro nenhum será disparado por conta dessa movimentação de tropas chaviztas, mas, sabe-se lá, às vezes um espirro fora de hora e lugar dá início a um tiroteio e um tiroteio...

Rafael Correa, que pode ser chamado de “cachorro chavizta”, reagiu protocolarmente ao ataque colombiano, chamando seu embaixador para consultas e exigindo desculpas públicas da Colômbia. Corretíssimo nas duas ações, estritamente dentro do protocolo e do que determinam as boas relações internacionais. O porta-voz de Uribe já adiantou que o país irá desculpar-se pela ação. Isso seria o bastante para encerrar o incidente, mas fica, agora, a ameaça criada pelas tropas venezuelanas.

O número 2 das tais FARC era apenas um bandido a mais. Lamento se alguém dá a esse pessoal o peso de combatentes por alguma causa, mas eu não creio nisso. Não passa, para mim, de movimento formado por grupos paramilitares, que ganham dinheiro com o narcotráfico e o seqüestro e encarceramento em condições degradantes de centenas, até milhares de pessoas. Não há porque lamentar.

Esse é um ano de eleições estaduais e municipais na Venezuela, e o partido de Chávez está muito mal nas pesquisas. Em novembro, Uribe afastou o venezuelano das negociações para a libertação de reféns em poder das FARC, quando sua ânsia por publicidade a qualquer custo ficou mais que evidente, ao ponto de atropelar as autoridades colombianas no processo de discussão. O brilho fácil do falatório demagógico e as manchetes igualmente fáceis proporcionadas por suas ações, eram importantes para continuar passando ao povo venezuelano uma imagem de grande líder que ele não é. O presente fuzuê parece ser apenas um sucedâneo para a ação frustrada de conduzir a libertação dos reféns.

Tiranos e tiranetes, mesmo que eleitos pelo voto popular, adoram esse tipo de coisas. Nossa história, infelizmente, está cheia de exemplos do tipo, como o de um ditador que mandou jovens despreparados para a invasão de um remoto arquipélago no Atlântico
Sul, provocando a morte de centenas e centenas de vidas.

Que Hugo Chávez limite-se à sua poltronice verborrágica.


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