sexta-feira, março 14, 2008

Ética ou liberdade?


“Não há moral, ética, nada”, disse o diretor da Federação Cubana de Futebol, Antonio Garcés, em relação à fuga de sete atletas da seleção cubana sub-23 que disputava o Pré-Olímpico em Tampa, na Florida.

Primeiro foram 5 atletas de uma só vez, incluindo o capitão da equipe. Depois de brilhante empate em 1x1 com a seleção americana, comemorado efusivamente na ilha (ainda) de Fidel, os jogadores, durante a madrugada, abandonaram o hotel. Na madrugada de ontem mais dois atletas fugiram e, comenta-se, ainda sem confirmação, que o mesmo fez um membro da comissão técnica cubana.

Com isso, o grupo de 18 atletas viu-se reduzido a 11, mas com um deles suspenso, Cuba entrou em campo para jogar contra Honduras com apenas 10 jogadores em campo e nenhum no banco. O jogo terminou em2x0 para Honduras, para alegria da delegação cubana que temia uma goleada retumbante e ainda mais desmoralizante.

A regra permite que uma equipe entre em campo com um mínimo de 7 jogadores – a mesma regra que já levou jogos ao final prematuro por conta de expulsões e contusões.

Os primeiros atletas a desertar estão negociando a ida para o Miami FC, que disputa a MLS – Major League Soccer e tem um grande contingente de torcedores cubanos em sua base.

Então, volta a pergunta: falta de ética ou desejo de liberdade?

A liberdade, para quem a tem, é algo vago, difuso, nunca considerado para nada na vida, afinal, como considerar algo “inexistente”?

A falta dela, todavia, é “existente”, é concreta, é dura, é pesada, é triste.

Ao ser humano, quase tudo é permitido na luta pela liberdade. Antigamente, tudo era permitido e aceito. Hoje, com atentados terroristas que matam inocentes, essa aceitação já é mais restrita, mas, certamente, a fuga de um regime ditatorial não é condenada. Exceto por aqueles que nada enxergam da realidade sem as lentes fortes da ideologia.

Já durante o Pan Americano, no Rio de Janeiro, três atletas e um treinador cubanos desertaram. Dois permaneceram no Brasil, já tinham tudo planejado. Dois atletas, porém, foram capturados pela Polícia Federal – mesmo sem nenhum crime ter sido cometido – e entregues ao governo cubano, que mandou um avião especialmente para levá-los de volta à ilha. Os atletas não tiveram tempo e apoio para pensar, para raciocinar sem pressões. Poucas vezes tive tanta vergonha do governo brasileiro como dessa feita. Negamos nossa história, para dizer o mínimo. Esse risco, pelo menos, os atletas que fugiram nos Estados Unidos não correrão.

Que sejam felizes no novo lar, em liberdade, ainda e sempre nosso bem mais precioso.

Pois não há agressão à ética nesse caso, há, tão somente, a fuga para a liberdade.

Mesmo porque, na visão do dirigente cubano, ético seria retornar à virtual prisão que é a ilha de Fidel e de Raul. E isso, convenhamos, nada tem de ético.


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