quarta-feira, setembro 05, 2007

Quase primavera


O tempo esquentou, já se percebe que as noites estão mais curtas e os ipês continuam em floração, assim como as patas-de-vaca ou bauínias. Algumas árvores já tem vegetação nova, folhas tenras, bem verdes, aparecendo em galhos nus. A primavera está próxima.

Os gramados bem cuidados das casas ricas e bonitas da Granja estão ressecados, tal como o capim seco e amarelado nos barrancos entregues ao deus-dará, mostram que ainda falta uma coisa muito importante para termos a primavera: chuvas. Enquanto elas não chegam tudo que resta é olhar para o céu, torcendo pelas nuvens negras e gordas, cheias de água. Bom, não olhamos mais para o céu que nos cobre, e sim para o desenho de céu chuvoso nas previsões da televisão e, principalmente, nas telinhas dos computadores.

E ontem à tarde o céu escureceu. E foi muito, nuvens cor de chumbo cobriram os céus da Granja Viana, se alongando no rumo de Carapicuíba, Alphaville, Barueri... E começaram os resmungos. Por muito tempo ouvi os resmungos roucos proferidos nas nuvens. Vez ou outra uma trovoada e logo voltava o resmungar contínuo. Como aquelas brigas em família, quando um dos contendores não se dá por vencido e fica ali, remoendo, resmungando, remoendo, resmungando... Sei bem como é isso.

Finalmente, depois de tanto teatro, tanta afinação, veio a chuva. Gotas grossas, pesadas, espaçadas, parecia uma chuva indecisa, talvez paenas uma nuvem cansada do peso despejando uma parte dele e guardando o resto. Mas foi boa, mesmo sendo meio curta. Baixou a poeira, trouxe o cheiro de terra molhada, grama molhada, árvores molhadas, cheiro bom, cheiro de vida. O ar ficou mais fresco, mais gostoso, mais animador. Já era tempo.

Day after...

Não cheguei a ver fotos ou noticiário de televisão e internet sobre a chuva. Ouvi menções ao granizo, “choveu gelo aqui em Carapicuíba”, mas não dei grande bola. Até ver a primeira página do jornal, mostrando nada menos que uma pá carregadeira cheia de gelo, no meio do gelo, limpando uma rua de Alphaville.

Fantástico!

Pá-carregadeira para tirar gelo das ruas?

Coisa de louco, rapaz.

Que que é isso?

E pus-me no meu canto, quieto, a pensar: será um efeito do aquecimento global?

Por que não?

Será que o roteirista de “The day after tomorrow” delirou ou pegou as idéias que movem o filme com os meteorologistas certos?

Ah, mas aquilo foi um filme.

Sim, um filme, mas o roteirista pesquisou, entrevistou, ouviu, pôs o roteiro em discussão com meteorologistas. Por mais ficcional que seja, há uma base científica por trás dos acontecimentos que, no filme, levam a uma nova e quase instantânea era do gelo.

Contudo, Day After à parte, a primavera está tentando chegar, tentando mostrar sua cara por inteiro. Falta pouco. Mesmo porque as amoreiras estão carregadas e o chão em volta de algumas está preto de tanta frutinha esmagada. E a passarinhada anda cantando forte e com gosto.

É, falta pouco, já, já é primavera.

Solta o Tim Maia, maestro!

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