Tão logo tive acesso à internet há muitos anos – nem lembro mais quando foi, aliás, alguém lembra se existia vida antes da internet? –, uma de minhas primeiras ações foi cadastrar-me e tornar-me assinante virtual do New York Times.
Desde então, todo dia abro minha caixa de entrada e lá está, presente e confiável como o meu exemplar diário do Estadão, o e-mail com o que NYT diz que está acontecendo de importante no mundo. Mesmo com as restrições de um acesso free, sempre foi uma preciosa fonte de informações, mesmo que meu índice de leitura não seja dos mais altos.
Foi emocionante receber um e-mail dizendo que o NYT inteiro, desde o número 1, estava disponível na net, bastando o trabalho de teclar meia dúzia ou menos de vezes e ler sobre o assassinato de Lincoln, o começo da I Grande Guerra, as matérias dos correspondentes nas frentes de batalha, e por aí afora. Desde então sonho com o dia em que terei todo o Estadão on line, desde os tempos de A Província de S.Paulo, ainda no Império.
Claro, recebi também gentil e-mail, propondo-me a assinatura on line do jornal, por meros US$ 49.95 por ano. Gentilmente, disse não. Mas fiquei chateado, não porque fosse perder alguma coisa, já que nada perdi e, mesmo com a assinatura, eu tinha mais acessos do que antes, mas porque gostaria de assinar pelo simples fato de assinar e colaborar com um órgão que reputo fundamental para a manutenção da liberdade e dos direitos civis. Enfim, como era um pequeno luxo não essencial, disse não, em linha com esses tempos de vacas anoréxicas, que um dia já foram magras.
Agora, leio com prazer a informação que o Times simplesmente aboliiu a assinatura paga e abriu o acesso a, praticamente, todo o jornal. Mais: o acesso gratuito cobre também todo o arquivo do jornal que é domínio público, desde 1851, exceto parte do material do período entre 1923 e 1986. Desde já tenho certeza que as restrições de acesso que ainda persistem não demorarão muito a cair.
Foi bonzinho o Times?
Não, simplesmente sua direção percebeu que o crescimento da publicidade virtual era muito grande e cobria a renda proveniente dessas assinaturas. Mais: boa parte dos leitores que acessavam o NYT faziam-no via Google, Yahoo e outros sites de busca. Agora, com a liberação, espera-se que boa parte dos leitores faça suas buscas diretamente pelo NYT, o que reforçará ainda mais a receita de publicidade.
Ah, a publicidade...
Em breve farei 53 anos. Com isso, estarei completando perto de 37 anos ligado à publicidade em diferentes formas. Orgulho-me disso, principalmente por ter claro na teoria e na prática, que é a publicidade que garante e estimula a imprensa livre. E não há democracia e dificilmente haverá pleno respeito aos direitos dos indivíduos perante essa coisa cada vez mais mastodôntica e ameaçadora que é o Estado, sem a imprensa livre, sem a multiplicidade de órgãos de informação, coisas que só a publicidade farta e abundante pode garantir. Publicidade é uma ferramenta requintada do business, do marketing, do capitalismo, sem dúvida, mas é, também, a mais sofisticada das ferramentas de garantia à liberdade de que dispomos. Sua contrapartida é o deserto tenebroso da “Voz do Brasil” e da tal televisão pública, tão ao gosto de gente como lulla da Silva, Zé Dirceu, Hugo Chávez e outros. Vade retro.
P.s.: meu acesso de hoje foi antecedido por uma mensagem dizendo que, nessa semana, o patrocínio é do cartão American Express; no rodapé, um link pode, se eu quiser, levar-me a algum site do AE; não quis, e segui minha leitura.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário