segunda-feira, junho 04, 2007

Pescando para escrever




Escrever tem um quê de pescaria. Pelo menos se a gente se dispõe a escrever crônicas, muitas vezes temos que sair à procura de algo que nos motive a pegar a pena, tinta e papel, sentar e escrever. Isso fica mais fácil quando a necessidade para começar resume-se a apertar o botão do computador e esperar um pouco, clicando para acessar o editor de textos. O bom desses softwares - não queria usar palavras como essa, mas, como fazer para comunicar o que quero? - é que eles mesmos se ocupam com as maiúsculas e os acentos, pelo menos a maioria deles. Isso facilita a escrita, porque o português tem acentos demais! Um verdadeiro despautério, cuja única utilidade, penso egoisticamente, foi me ajudar a tirar boas notas em gramática.

Mas comecei a falar em pescaria e parei. Essa pescaria se dá nos arquivos mortos, teoricamente vivos, guardados aqui mesmo no computador. Às vezes é fascinante passear por velhos textos, a maioria apenas iniciados e largados, ora por preguiça, ora por falta de tempo, ora por falta de capacidade pura e simples para terminá-los de forma decente. Alguns, verdade seja dita, nada têm de fascinantes, muito pelo contrário. E me ponho a pensar no que me levou a escrevê-los. Nesses passeios por velhos arquivos eletrônicos sempre acabo encontrando algo interessante, geralmente para uso futuro e nunca para o momento presente e a necessidade premente - isso é uma rima pobre, não é?
Ainda há pouco, deparei com uma carta/crônica de sei lá quando em que falo de banheiros! Só pode ser brincadeira, mas não, tá lá, tintim por tintim. Acho que a única coisa prestável ali é quando falo que gosto dos banheiros do Serra Azul, aquele shopping suspenso sobra a Bandeirantes. Ali, enquanto a natureza segue seu curso, ao invés de ficar olhando para o infinito de uma parede, olho pelos janelões para a paisagem da região de Valinhos, colinas com árvores, pastos, lavouras e parreirais. Bom, enxergo também o Hopy Hari, mas, tudo bem, nem tudo pode ser perfeito. E olho a estrada, os carros indo em busca de seus destinos por esse interior afora...

Outra boa pescaria é pelos jornais recortados.

Ah! Os jornais recortados, os jornais guardados, fontes permanentes de cobranças e pequenas discussões. O pior é que me dói profundamente desfazer-me de tempos em tempos de pilhas e pilhas laboriosamente dobradas de páginas de jornais. Quanta informação, quanta coisa interessante, quanto saber acumulado aquelas páginas revelam, e tudo vai para o chão, servir de piso "mole" e absorvente para as noites da Mel e da Branca. Melhor destino teriam se servissem para embrulhar hoje as sardinhas do almoço de amanhã. Lembro dos versinhos dos banheiros escolares de há quarenta anos:

"Triste vida, triste sina,
Ser poeta de latrina."

É, não deixam de fazer sentido com esse texto e, sobretudo, com o pobre destino das páginas com tanto saber.
O que me leva aos trabalhos curraleiros no sítio. Há que tirar a bosta das vacas e levar tudo para a esterqueira. A bosta de hoje é o adubo de amanhã que, por sua vez, irá gerar as abobrinhas futuras e as abobrinhas presentes que vocês estão a suportar bravamente.

Mas não vou falar de alguma página catada a esmo, senão esse texto não termina e depois dessas abobrinhas é melhor terminar.

Fui.


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