sexta-feira, junho 22, 2007

Boas Novas!


Bom, nem só de más notícias podemos viver, não é mesmo?

Da mesma forma, a vida precisa continuar e isso implica na manutenção de algumas coisas que já sabemos não serem boas. Pelo menos a curto e médio prazo. Refiro-me, é claro, ao aquecimento global. É ilusão acreditarmos em reversão, pelo menos a médio prazo, e é mais ilusório ainda esperarmos que os seres humanos individual e coletivamente, empresas e governos façam sacrifícios sem ter a ponta da espada na garganta. Porque a vida precisa continuar, como já disse, e isso implica em sete bilhões de pessoas querendo comida, abrigo, conforto e algum luxo supérfluo. E não há como não atender a essas demandas.

Um dos principais fatores que me levam a apoiar fortemente a introdução de organismos geneticamente modificados – os OGMs ou transgênicos - na agricultura, é justamente permitir a continuidade da produção de mais e melhores alimentos para cada vez mais e mais gente. Até porque a primeira demanda do ser humano com alguma sobra de dinheiro é justamente por proteínas nobres. E isso significa laticínios e carnes diversas, principalmente. Ninguém que melhora de vida o faz para continuar comendo bolinho de arroz e folhas de alguma coisa. Ou mandioca e outras raízes em mistura com algumas folhas. Não é assim, não é justo que seja assim. Seres urbanos criados com largas porções de proteínas desde o nascimento têm optado em bom número pela redução ou mesmo eliminação de carnes em seus cardápios. Alguns há que até laticínios e ovos eliminam. Mas isso é fácil para quem nunca passou fome ou falta dessas coisas. Lembro que tanto na enganação do Plano Cruzado em seu início, como depois, na introdução do Plano Real, esse sim, sólido, consistente e duradouro, o consumo de alguns itens explodiu no Brasil. A ponto de certos políticos oposicionistas da época, dizerem inumeráveis vezes que o plano era uma enganação e só tinha servido para aumentar o consumo de frango assado nas padarias das esquinas da vida. Pois é, a enganação persiste até hoje, então, e permitiu a um certo bando de pulhas e vigaristas serem conduzidos ao poder pelos neo-consumidores de frango de padaria.

Picuinhas à parte, os “brilhantes” políticos da época erraram no geral e acertaram no detalhe: o consumo de frango explodiu. Assim como o consumo de laticínios diversos. Ou seja, proteínas nobres de repente ficaram ao alcance das bolsas pobres e miseráveis, deixaram de ser privilégio das camadas já privilegiadas da população. Ou “privilegiadas”, afinal, estamos no Brasil. E para garantir essa expansão e sofisticação de consumo, só mesmo com o apoio dos OGMs para dar continuidade à produção sem estourar com tudo quanto é recurso ainda existente. Sim, porque a principal característica inerente a todo OGM é a redução no consumo de energia para a sua produção. E energia, bem o sabemos hoje, é algo que deve ter seu uso reduzido, idealmente.

Pois bem, voltando, finalmente, ao tema desse texto, vamos às boas novas. Elas têm um âmbito restrito em termos globais, pois referem-se ao estado de São Paulo, uma, e a outra, embora possa vir a ter impacto global, está ainda por começar.


Menos queimadas

O Diário Oficial do Estado de São Paulo de hoje publica resolução que reduz em 4% a área de cana autorizada para queima nessa safra. Isso significa que 130.000 hectares de cana não serão queimados e terão de ser colhidos mecanicamente (o corte manual de cana crua é inviável economicamente).

Mais importante que essa medida é a determinação do Estado de que as 56 novas usinas que estão requerendo licença de operação só a receberão se trabalharem integralmente com cana crua. Ou seja, independentemente da expansão das áreas plantadas com cana, as queimadas passarão a ter redução consistente ano a ano.

Para melhorar ainda mais, e isso já fora publicado e eu mesmo já postara a respeito, os prazos para o fim das queimadas encolheram: para 2014 nas áreas passíveis de mecanização, e para 2017 nas áreas com declividade superior a 12%, onde a colheita mecânica, pelo menos hoje, não é técnica e economicamente viável.


Plástico verde

Agora é para valer.

A Braskem desenvolveu uma resina a partir da cana-de-açúcar que será utilizada na produção de plástico.

Melhor que isso: a produção comercial terá início em 2009.

Essa resina será a matéria-prima para a produção de um polietileno de alta densidade linear, para uso em embalagens de produtos alimentícios e cosméticos, indústria automobilística e outros produtos e setores que hoje utilizam o polietileno fabricado a partir da nafta ou gás natural. Esse polietileno não se degrada na natureza durante centenas de anos, e sua produção implica no consumo de petróleo ou gás.

O plástico verde derivado da cana será biodegradável em pouco tempo e sua produção e uso implicará em baixo impacto ambiental.


A vida continua

O bom dessas notícias é que elas não implicam em sacrifícios e sim na manutenção de determinados padrões de consumo hoje existentes e ambicionados por muitas centenas de milhões de pessoas em todo o mundo.

Não só manter padrões de consumo, mas também atender à demanda das pessoas por empregos e renda. Esse é o grande desafio: controlar o aquecimento global e a degradação do planeta, com a manutenção e expansão de melhor qualidade de vida para pelo menos 4 bilhões de seres humanos, hoje destituídos de qualquer coisa próxima de “qualidade de vida”.



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