quinta-feira, junho 14, 2007

A passagem do tempo e outras milongas

“Calma, Patrícia, temos tempo ainda, hoje é segunda-feira”, disse calmamente à minha cliente preocupada com o prazo pelo celular, em meio aos stands da Semana de Citricultura, em Cordeirópolis, cidade próxima a Limeira, no interior de São Paulo e mais perto do Sítio das Macaúbas do que da Capital.

“Não, Emerson, hoje é terça-feira e a apresentação será depois de amanhã já!”

Foi então que a ficha caiu e eu dei-me conta que, realmente, já era terça, mas eu pensava e agia em várias coisas como se ainda estivéssemos na segunda-feira. Triste e perigoso engano. Constrangedor não foi, sou meio cara-de-pau, e o motivo para o engano de datas era nobre: vinha trabalhando direto a uns dez dias, ignorando feriado, feriadão e final de semana, os últimos dias enfiado na ilha de edição. Há muito eu já não sabia o que era a doce rotina do dia-a-dia.

Esse é o problema da rotina quebrada e da súbita falta de referenciais, coisas que balizam nossas vidas muito mais do que imaginamos ser possível. O sábado e o domingo passados em casa ou no sítio, a rodada esportiva que começa no sábado e só termina na noite de segunda-feira, com os programas de debates a respeito, o ar de domingo que todo domingo tem – sim, domingo tem um ar de domingo todo próprio, todo especial, a ponto de levar-me a considerar o domingo como uma das grandes invenções da humanidade, pelo menos em sua vertente ocidental. Enfim, ficar sem essas pequenas e gostosas coisas confunde nossos sensores.

Isso explica, em parte, alguns votos de alguns eleitores qualificados em casas parlamentares as mais diversas. Desacostumados ao trabalho, às tarefas de raciocinar e votar, muitos deles perdem o rumo e votam corretamente, em total desacordo com suas próprias práticas. Chocante, não é mesmo? Isso é muito comum em Timbuctu, ou Tombuctu, e outros lugares igualmente aprazíveis, convenientemente distantes da gente. Ainda bem.

Ciente, então, e voltando à minha vaca fria, que já estávamos em plena terça-feira e o prazo para entregar o trabalho extra ao cliente já se aproximava de perigoso dead line, deixei de lado minhas andanças e conversas com velhos conhecidos na feira de citricultura e voltei pra São Paulo e pro trabalho de editar e reeditar. Felizmente, e com o auxílio luxuoso, da internet, tudo ficou pronto na terça mesmo, inclusive com o vídeo editado chegando ao cliente no mesmo dia.

E agora, em plena quinta-feira, véspera da sexta e antevéspera do sábado, descubro que vivo uma semana mais curta que o habitual. Meus sensores, definitivamente, não se acertam mais com essas demasias de trabalhar fechado dias e dias seguidos.


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