quarta-feira, abril 25, 2007

Uma curta carta...

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Estou pensando simploriamente...

Em relação ao aquecimento global a importância da vegetação reside no seqüestro e posterior fixação do carbono atmosférico. Basicamente.

Temos hoje nesse planeta – e particularmente nesse país – algumas centenas de milhões de hectares mal ou subaproveitados. Principalmente em áreas em processo de degradação, onde as manchas de solo exposto e nu ganham terreno chuva a chuva, seca a seca. Essas áreas estão quase zeradas em termos de seqüestro de carbono. Em termos de tudo, na verdade. Além disso tudo, ainda servem de fornecedoras de material para assoreamento de mananciais diversos, córregos, rios, etc, além de não serem bacias de captação de águas subterrâneas.

Paralelamente, temos grandes focos de tensão provocados pelo acúmulo de gente e escassez de trabalho. Pior que isso: boa parte dessas pessoas, mesmo nada tendo, sonham em ter trabalhos mais próximos do sonho urbano que da dureza rural. Nada como trabalhar só oito horas por dia, ter descanso no sábado e no domingo, ou então umas belas horas extras, além de um serviço menos pesado (mesmo quando no campo) e a assistência médica chique de um convênio. Outro ponto: boa parte desse povo, se largado à solta em lotes rurais, nada mais será que um destruidor implacável de tudo e qualquer coisa que se relacione com a natureza. Logo, diria ser de bom alvitre “confinar” esse pessoal nas cidades com empregos urbanos ou agroindustriais.

Continuando com minha linha simplória, sem grandes derivativos, acredito que 1+1=2. E, nesse caso, 2 para mim é transformar essas terras inúteis em áreas geradoras de empregos, que, ao mesmo tempo, sustentem uma lavoura voraz em carbono, que ainda vai gerar um combustível que permitirá o menor uso, quiçá a substituição, de um combustível cujo maior predicado é encher a atmosfera de mais gases que aumentam o aquecimento.

Uma floresta em crescimento seqüestra carbono de monte.

Uma floresta de eucalipto – e essa está em “eterno” crescimento – consome tanto ou mais carbono que uma linda e correta floresta nativa, que seqüestra, cresce e entra em equilíbrio, basicamente substituindo folhas.

Um canavial seqüestra menos carbono, claro, mas creio que, depois de um hectare de árvores, um hectare de cana sadia e produtiva seja um grande sorvedouro de carbono. Não só a cana. Qualquer lavoura sadia e bonita é uma grande seqüestradora de carbono, não é?

Ainda, então, na linha 1+1=2, sou a favor de mais agricultura.

Agricultura bem feita, técnica, caprichada, produtiva. Não é tarefa para sem-terra ou sem-conhecimento. Mas é tarefa banal para sojicultores e usinas de açúcar e álcool, assim como papeleiras e reflorestadoras.

Concentra renda?

Não, distribui, na medida em que geram empregos melhor remunerados e criam grandes estruturas de serviços.

Distribui pouca renda?

Sim, por obra e graça desse bananal.

São benéficas ao ambiente?

Atrevo-me a dizer que sim, pois mau plantador faz duas safras e jamais consegue a terceira. Não há boa safra, hoje, sem solo protegido e uso correto – e, por extensão, econômico – de adubos e defensivos. E não há lavoura produtiva e lucrativa sem esses pré-requisitos.

Precisa derrubar a floresta?

Bobagem. A floresta tem que ser protegida a todo custo e em toda parte. Não pra ser bonzinho com bichinhos e plantinhas, mas para proteger-nos. Sabe-se, hoje mais que antes, que boa parte das chuvas do Sudeste e Centro-Oeste e até do Sul, são geradas na Amazônia.

E onde vai pastar o boi?

Ora, o boi que coma silagem e paste em pastos bem plantados, de preferência numa rotação de longo prazo com a soja, milho, sorgo e até cana. E que a população toda pague um pouco mais pela carne. É justo e é necessário (e pelo leite também, por favor!).

E vai tudo virar cana ou soja?

Vai nada! Se o risco acontecer os preços dos outros produtos trarão produtores de volta.

E por aí vai...

Como eu disse, tudo simplório, claro. Mas creio que tudo factível.

Vou tentar pensar a respeito durante a viagem. Escrevi agora de sopetão, mas, em síntese, é isso que penso.

Ah, sim, e nada de madeireira fazendo “manejo sustentável” de mata amazônica. Isso é pura abobrinha. Não pode mexer nada na mata e ponto final. Agora, tem que dar um jeito de dar dinheiro pros “povos das florestas”, ou eles mesmos vão derrubar tudo e trocar por uma parabólica.


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