sexta-feira, abril 13, 2007

Ipanema no Sítio das Macaúbas...



... Ou, lembranças de um Reveillon


Dias atrás, caminhando pelo sítio lembrei-me que alguns de seus habitantes vieram de Ipanema. Alguns prosperaram, outros definharam e sumiram.

Foi assim.

Vi o sítio pela primeira no distante novembro de 1999, logo depois de uma seca terrível. E isso foi bom, pois pude ver que o sítio se mantivera em ordem e a fonte principal não fora muito afetada pela estiagem severa e prolongada.

Alguns dias depois voltei, dessa vez acompanhado pelo representante do proprietário. Andei por toda parte, entrei na pequena casinha, olhei e gostei mais ainda do sítio. A certeza que eu já tinha que ele seria meu ficou mais forte. Vieram as conversas, a negociação e chegou o Reveillon, o Reveillon da falsa passagem do milênio, mas que valeu, oras, que diabos, como verdadeira.

Comprei umas garrafinhas pequenas, individuais, de Don Perignon. Gastei, é bem verdade, mas valeu a pena, pois já naquela época desconfiava que aquela seria a única passagem de milênio que eu veria. Tenho certeza que há muito ter-me-ei ido na próxima virada, de 2999 para 3000, embora o correto, claro, seja de 3000 para 3001. Mas quem se importa?

E, assim, lá estávamos nós – Rosa, Rogério, Sonia e eu – em plena areia de Copacabana, espremidos entre muitos milhares de pessoas, esperando pelos fogos para ver, abrir as garrafinhas e entornar o champagne direto na boca, sem taça e sem finesse, mas com muita alegria e esperança, artigo ainda abundante naquele tempo.

O assunto que dominou nossa estada no gostoso apartamento da Nascimento e Silva naqueles dias foi o sítio. Meu amigo Rogério, agrônomo, taquaritinguense deslocado multinacionalmente para Ipanema, presenteou-me com mudas de árvores que ele preparava com sementes colhidas em suas caminhadas pela beira da Lagoa e pelas ruas do bairro. Eu nem havia comprado o sítio e já tinha o que nele plantar. De certa forma, posso dizer, esses ipanemenses foram os primeiros novos habitantes do sítio sob nova direção, a minha.

Na hora de ir embora, lá foram as mudas para o carro: uma muda de oiti, duas ou três de abricó-de-macaco, e umas três ou quatro de umas “cássias”, árvores da enorme família das leguminosas, com caules e galhos espinhentos. E pegamos estrada. E paramos. As chuvas fortes tinham derrubado barreiras na Dutra. Saí dessa estrada e fui pra Barra do Piraí, onde encontramos o Rio Paraíba quase passando por cima da ponte, que estava, naturalmente, interditada. Por sinal, foi interditada uns quinze minutos antes de chegarmos. Bom, dirigir é coisa que gosto, ainda, e gostava muito mais. Assim, peguei de novo a estrada e fui sair em Bananal, no alto da Serra do Mar, já em São Paulo. E de lá para casa, onde me esperava a tratativa final para a compra do sítio. Alta expectativa.

As mudas ficaram em casa. Só em fevereiro foram para seu novo lar, onde eu mesmo plantei-as. Não lembro ao certo, mas creio que já contei com o ajutório do Ismael no plantio de algumas.

Sete anos se passaram e elas vêm crescendo lentamente. É assim mesmo com mudas de pé-franco, preparadas diretamente da semente, sem enxertia.

De todas, a mais bonita é o pé de oiti, plantado ao lado da varanda do tanque, na cozinha. Tá bonitona a danada, como dá pra ver na foto.

Essas duas cássias, cuja espécie ainda não identificamos, também vão bem e o gado já se abriga em suas sombras não muito grandes.

A idéia era essa mesma, sombrear um pedaço de pasto.

Tem mais uma perdida lá pra parte de baixo, num buraco deixado por um pé de ponkan que bateu as botas.

Os abricós-de-macaco sumiram, não deixaram rastro, deles ninguém sabe, ninguém viu. Pra ser sincero, não sei se sinto a falta deles, pois, afinal, um dia dariam frutos e, com eles, trariam aquele cheiro... Que cheiro.

Não é sempre, mas muitas vezes olho para o oiti e para as cássias e lembro-me de meu amigo Rogério e da Sonia, sua esposa. Lembro de nossa amizade e lembro do Reveillon da virada do milênio. Fake, sim, mas quem se importa?

Ao fim e ao cabo, o que lembro, mesmo, é da amizade tão gostosa e de pessoas tão queridas. E é sempre um pouco de Ipanema no Sítio das Macaúbas.


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Um comentário:

Anônimo disse...

Gostamos de ler e de nos lembrar desses fatos passados. Realmente o que vale a pena nessa vida são esses momentos de convívio com pessoas queridas. Sinto saber que os abricós-de-macaco não foram bem sucedidos e prometo fazer mudas dos mesmos para ornamentar o querido sítio Macaúbas, dos mais queridos ainda amigos Emerson e Rosa.

Rogério & Sonia Abbate