Um Olhar Crônico sobre os dias de hoje e alguns de ontem. Um Olhar Crônico sobre a vida nas cidades, a vida na megalópole, a vida na roça, quando é dura, e no campo, quando é lírica. Textos, Idéias & Coisas diversas, aquelas que passam pela cabeça e a gente acaba registrando, sabe-se lá pra que ou mesmo porquê.
quinta-feira, janeiro 05, 2006
Chove chuva, chove sem parar...
Bom, apesar de tudo ainda é melhor a chuva que a seca. E permite criar música gostosa como essa “Chove chuva” do velho Jorge Ben, hoje Benjor.
Os efeitos negativos da chuva são sempre limitados, geograficamente restritos, ao passo que os efeitos da seca são difusos, se alastram por toda parte.
Claro que falo pensando em lavoura e criação. Não dá para falar isso para a família que teve o barraco ou a casa soterrado por um deslizamento. Ou que perdeu móveis e roupas numa inundação. Tudo isso sem falar nas vidas que se perdem nessas tragédias anunciadas.
Sim, anunciadas. Nada mais anunciado, ano após ano, como as tragédias provocadas pelas chuvas de verão. Por toda parte as autoridades calam-se, acomodam-se e permitem que pessoas ergam barracos ou construam casas em áreas de encostas de alto risco. Não é nem o caso de falar que essas pessoas estão cometendo crimes ambientais em sua maioria, com os quais as autoridades são coniventes. Várzeas são ocupadas, urbanizadas intensamente e inundadas intensamente, mesmo depois de grandes e despropositados investimentos em canalizações, marginais, aprofundamentos de calhas e assemelhados. Toneladas de dinheiro são jogadas fora, literalmente, e não impedem que milhões de toneladas de água e detritos destruam tudo que encontram pela frente.
Há uma mentalidade burra, ignorante e daninha dominante. A mesma, por sinal, que encontro no sítio e arredores, por exemplo. Na manhã seguinte ao Natal eu fui claro a respeito das valetas e bueiros que deveriam ser feitos, ou consertados, ou ampliados. “Ah, mas já choveu muito, agora pára” – deve ter sido o pensamento que dominou o inconsciente do pessoal. Assim, meu alerta foi tomado como exagerado, “não precisa tanto”, tudo isso, repito, de forma inconsciente. Assim sendo, os trabalhos foram feitos numa escala inferior à necessária. O resultado, é claro, foi que a natureza, desconhecendo o fato de “já ter chovido tanto”, deu jeito de fazer chover mais ainda do que já tinha chovido, e com isso ampliou o estrago na pastagem e no canavial. E levou-me a, tal como no dia de Natal, passar o dia de Ano com enxada e pá nas mãos, além das bolhas velhas e outras novas, fazendo remendos, tentando um conserto aqui, fazendo uma nova valeta e um novo bueiro acolá. Toda essa atividade prejudicada fortemente pelos meus 51 anos, vida sedentária, atleta de computador, “mãos de moça” e bolhas nas ditas mãos, sem falar das dores nas costas, na cintura, nas pernas, nos braços... Cruzes, que texto mais horroroso!
Continua chovendo. Breve, teremos tempo seco. Mas não demora muito novas chuvas de verão virão. Não tem jeito, é da natureza, é do tempo, é assim que é e continuará sendo.
E continuaremos ouvindo as autoridades municipais, estaduais e federais a prometer providências. Novos gastos emergenciais serão aprovados. As câmeras das emissoras de tevê mostrarão autoridades visitando áreas de catástrofes, caras compungidas, tristes, e o olhar resoluto e a voz firme ao emitirem as promessas de praxe.
O que eu espero ver diferente é minha cara ao chegar no sítio nas próximas chuvas de verão. Espero ver minha expressão refletindo o estado das terras e lavouras do sítio: placidez, com tudo em seus devidos lugares.
Será que conseguirei tamanho feito?
Tomara, pois quero só sentir o prazer de sempre com a chuva, mesmo que seja chovendo sem parar.
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