O nascimento da Lua ontem foi perfeito. O céu invernal estava
limpo e o brilho de Jaci apareceu no horizonte muito antes que ela mesma
surgisse, luminosa, intensa, puxando para o vermelho ao “rés do chão”, antes de
tornar-se prata pura já alta no céu.
Não vi o nascimento da Lua cheia hoje, mas há poucos minutos
saí e caminhei um pouco, tomando um “banho de lua”, como dizia antiga canção
dos tempos d’eu menino.
Essas noites de luar pleno são mágicas. A palavra é meio
batida, reconheço, mas ela readquire seu significado original quando caminhamos
silenciosamente pela estradinha de acesso à casa, saindo da sombra de uma das
mangueiras ou da paineira para a luz do luar e entrando em outra sombra de
outra mangueira ou da mamica-de-cadela, nome meio feioso para árvore muito
bonita. E cheia de espinhos, que com um pouco de boa vontade lembram as
maminhas de uma cadela ou de uma porca, outro nome para ela.
A luminosidade é intensa a ponto de gerar sombras muito bem
definidas. A vista alcança longe e apesar de enxergarmos tudo, muito mais fica
apenas num vislumbre tão passageiro quanto enganador.
Um velho pedaço de tronco poderia parecer um capanga de outros
tempos, emboscado, à espera do incauto viajante ou do alvo para cujo fim foi
contratado. A luz do luar engana e do engano nascem histórias as mais incríveis.
As cachorras aproveitam a noite fresca, quase fria, e dormem
sobre seus panos quentes e aconchegantes. Mal e mal abrem uns olhos curiosos para
mim e tornam a fechá-los, já estão acostumadas com minhas andanças noturnas.
O citadino perdeu essas noites, desconhece essa magia.
Ignora
o falso silêncio das noites sertanejas, das noites na roça, desde que não haja
mais colheita de cana nas proximidades.
Perdeu, também, outra magia, a das
noites escuras, enganadoramente escuras, pois é só questão de tempo para os
olhos se acostumarem à claridade tênue, difusa, proporcionada pela luz das
estrelas.
Em noites assim, a estradinha em solo de areião facilita a vida. Enxergamos
tudo e caminhamos sem risco de um tropeço ou de um pisão numa pedra.
Nessas noites parece que o Universo está mais presente.
Não sinto nossa insignificância, mas sinto que há muito a
conhecer, a entender.
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