sexta-feira, agosto 03, 2012

Noites de luar sobre o Macaúbas




O nascimento da Lua ontem foi perfeito. O céu invernal estava limpo e o brilho de Jaci apareceu no horizonte muito antes que ela mesma surgisse, luminosa, intensa, puxando para o vermelho ao “rés do chão”, antes de tornar-se prata pura já alta no céu.

Não vi o nascimento da Lua cheia hoje, mas há poucos minutos saí e caminhei um pouco, tomando um “banho de lua”, como dizia antiga canção dos tempos d’eu menino.

Essas noites de luar pleno são mágicas. A palavra é meio batida, reconheço, mas ela readquire seu significado original quando caminhamos silenciosamente pela estradinha de acesso à casa, saindo da sombra de uma das mangueiras ou da paineira para a luz do luar e entrando em outra sombra de outra mangueira ou da mamica-de-cadela, nome meio feioso para árvore muito bonita. E cheia de espinhos, que com um pouco de boa vontade lembram as maminhas de uma cadela ou de uma porca, outro nome para ela.

A luminosidade é intensa a ponto de gerar sombras muito bem definidas. A vista alcança longe e apesar de enxergarmos tudo, muito mais fica apenas num vislumbre tão passageiro quanto enganador.

Um velho pedaço de tronco poderia parecer um capanga de outros tempos, emboscado, à espera do incauto viajante ou do alvo para cujo fim foi contratado. A luz do luar engana e do engano nascem histórias as mais incríveis.

As cachorras aproveitam a noite fresca, quase fria, e dormem sobre seus panos quentes e aconchegantes. Mal e mal abrem uns olhos curiosos para mim e tornam a fechá-los, já estão acostumadas com minhas andanças noturnas.

O citadino perdeu essas noites, desconhece essa magia. 
Ignora o falso silêncio das noites sertanejas, das noites na roça, desde que não haja mais colheita de cana nas proximidades. 
Perdeu, também, outra magia, a das noites escuras, enganadoramente escuras, pois é só questão de tempo para os olhos se acostumarem à claridade tênue, difusa, proporcionada pela luz das estrelas. 
Em noites assim, a estradinha em solo de areião facilita a vida. Enxergamos tudo e caminhamos sem risco de um tropeço ou de um pisão numa pedra.

Nessas noites parece que o Universo está mais presente.
Não sinto nossa insignificância, mas sinto que há muito a conhecer, a entender.


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