Aviso aos navegantes
I: o céu é de brigadeiro, mas o meu humor é cinza-chumbo.
Aviso aos navegantes
II: não acreditem nas maravilhas que os políticos entoam sobre nossa
infraestrutura e sobre nossa economia. É tudo fake.
Temos tido esses céus tenebrosos céus de brigadeiro há algumas
semanas, o tipo de tempo que faz a alegria dos cidadãos urbanos, especialmente
nos finais de semana. Não faz a minha alegria, embora as noites sejam
espetaculares. Noites de inverno, noites de dias secos, noites estreladas,
noites sem orvalho. No final da madrugada, ao ir de um lado para outro aqui no
sítio, o calçado não fica molhado, as pernas das calças não ficam encharcadas e
geladas. Bom para começar o dia de trabalho, mas, uma chuvinha viria a calhar,
nem que fosse só para tirar a poeira de tudo.
Em tempo de chuva temos tempestades,
algumas muito pesadas (e diz minha percepção, que pode estar enganada já que é
só percepção, que essas tempestades terríveis vêm aumentando na quantidade e na
intensidade; e meu bolso concorda com minha percepção), com os inevitáveis
problemas no abastecimento de energia. Já nesses dias secos...
Também temos interrupções no
fornecimento de eletricidade. Foi assim na sexta-feira, repetiu-se ontem e,
acreditem, tornou a acontecer hoje. E o que deveria ser uma plácida manhã
dominical, viu-me enfurecido ao celular, perigosamente perto de romper o famoso
limite da irresponsabilidade. Não rompi, controlei a fúria e o vocabulário e
disse ao atendente da concessionária de energia que se era o caso deles
cortarem a luz, que cortassem de uma
vez por todas e não ficassem com aquele nhenhenhém destrutivo de luz pisca-pisca.
Porque esse vai e vem energético destrói tudo quanto é equipamento eletrônico e
motores elétricos.
Nos últimos catorze ou quinze
meses tivemos três problemas com o tanque de refrigeração do leite, duas vezes
com o sensor de temperatura e uma com o ventilador, provocados por sobrecarga ou
oscilação forte na corrente ou. Posso dizer que tive sorte, já que o compressor
nada sofreu. Naturalmente, como sói acontecer em Pindorama, a concessionária
nada ressarciu.
O pisca-pisca de anteontem
varou a noite e começou o sábado. Nessa altura, já tinha levantado em plena
alta madrugada para desligar tanque na tomada. Por volta de cinco e meia da
manhã religuei-o e comecei a preparar o trato das bezerras, que tão logo
estivesse terminado seria o sinal de largada para começar minha viagem para São
Sebastião, onde o aniversário de três anos de meu neto, o primeiro aniversário
que terá um significado maior para ele, teve lugar. Não somente isso, pois também
já havia marcado uma conversa com um amigo, talvez até em meio ao Canal, com a
Ilhabela de um lado e a Serra do Mar do outro, todos os sentidos ligados ao
drapejar das velas e às batidas ritmadas das marolas no casco do Eleonora.
Não aconteceu nada disso,
pois quando a luz voltou Inês era
morta, no caso, a minha viagem.
Minhas conversas foram com a
concessionária de energia. Num primeiro momento pareceu que o sensor do tanque
havia pifado novamente, e lá fui eu, em pleno sábado – tudo acontece nos finais
de semana ou feriados – a correr atrás de sensor. Que revelou-se desnecessário felizmente.
E o domingão amanheceu como
o sábado: céu de brigadeiro e seco.
E como no sábado a luz
piscou e piscou e piscou... Dali a pouco piscou, piscou, piscou e...
Acabou.
E assim (há quem diga ser
deselegante iniciar frase com a conjunção e; é mesmo?), ao invés de cantar Parabéns
a Você para o meu neto, repeti a cantilena de reclamações para os atendentes
da concessionária.
O que deve ter sido apenas
um exagero de minha parte, já que todos sabem que nossa infraestrutura, até no
fornecimento de energia, é o “bicho”.
Não é. É pobre,
insuficiente, de má qualidade, eleva custos, maximiza perdas, destrói vidas,
além de sonhos e esperanças.
Está longe de ser meramente
digna de ser chamada de infraestrutura, mas há quem acredite nela, assim como
se acredita que céu bonito e bom é o céu de brigadeiro.
Paciência.
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