A vida aqui no sítio é relativamente simples, um tanto
quanto às antigas a um primeiro olhar, mas nem tanto a uma segunda olhadela,
mesmo que ligeira.
Meu notebook fica conectado cerca de dezoito das vinte e
quatro horas do dia, às vezes mais, dependendo dos gigabytes a serem baixados. Assisto
algumas séries quase que no mesmo dia em que vão ao ar nos Estados Unidos. A miniparabólica traz não sei quantos canais
de televisão, daqui e de outros países, mas a rigor nada vejo, exceto o futebol
e a novela, esta assistida pela Rosa e por mim, dia sim, outro não. Pois é,
apesar da gritaria, a Carminha nos pegou. Mas, confesso: meu herói é o Cadinho
(e... não, não quero ser como ele; nunca teria tanta energia e paciência, sem
falar do dinheiro). O celular recebe chamadas e eu mesmo as faço vez ou outra,
pois prefiro as ligações pela internet, muitas com mais de 50 minutos e custo
quase zero (viva o Skype!).
Sim, é roça, com as coisas da roça, mas também com alguns
teretetês da grande cidade, exceto o pão italiano.
Esses teretetês, todavia,
não invalidam o que falei sobre vida simples, querem ver?
Alguém que lê essas mal digitadas faz compra no mercadinho
com caderneta?
Ah, sei, só com cartão de crédito ou com cheque ou com
dinheiro.
Sei, sei, sei...
Bom, eu também não faço compra com caderneta, mas por mera
preguiça e comodismo. O dono do armazém do pequeno distrito vizinho marca num
cadernão dele e me dá um pedacinho de papel da calculadora com o valor da
compra do dia, sempre um final de tarde, aproveitando quando levo o Dito de
volta para sua casa. E assim vou pegando o gás de cozinha para nós e pro Zé e
sua família, a sacrossanta mussarela para o lanche de quase toda noite, que só
troco por uma pratada de cereais, com banana e leite ou por uma pizza... de
mussarela, claro, parte dela com atum impregnado de ômega 3 (coisa herdada da
grande cidade).
Aí, no começo do mês, pego a comprinha do dia, peço pra somar com
todas as outras e pago com cédulas e moedas de real. No dia seguinte ou no outro
o ciclo recomeça e já terei mais umas coisinhas marcadas.
É a velha caderneta de crédito, menos chique que os cartões,
mas infinitamente mais prática e humana, como provam os habituais dois, às
vezes três, dedos de prosa, quando trocamos novidades sobre os arredores ou
comentamos alguma coisa do distante grande mundo cheio de luzes, trânsito e
barulhos.
Então, atrevo-me a dizer que ninguém mais com os olhos
nessas telinhas faz compras com caderneta de crédito.
Sim, eu sei, seria meio
complicado pro “seu” Diniz ou pro “monsieur” Carrefour marcar nossas
comprinhas nas cadernetinhas.
E se com as caixas-registradoras metamorfoseadas
em potentes computadores (on line full time com tudo quanto é banco e cartão) as
filas já são quilométricas e demoradas o bastante para algum condenado ouvir de
cabo a rabo um discurso de Chávez ou Fidel, imaginem se as meninas dos caixas
tivessem que escrever numa cadernetinha item por item, com os nomes complicados
das coisas de hoje em dia e seus valores estratosféricos?
Não, não imaginem, a menos que já tenham uma aspirina ao
lado, pronta para ser engolida, pois a simples imaginação de tal hipótese é o
bastante para bela enxaqueca – herança, presumo, da minha vida pregressa na
grande cidade.
Observação: a foto é apenas o registro de bucólico e corriqueiro momento aqui no Sítio das Macaúbas; por sinal, foto já meio velha; dizem os técnicos que textos precisam de fotos para ficarem mais atraentes, despertando o interesse do leitor; então tá, taí a foto.
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