Um amigo de Brasília, em troca de mensagens sobre o futebol, sugeriu-me o uso de colírio, ironicamente. O objetivo seria melhorar minha visão da realidade, em sua opinião. A verdade, sem ironia, é que já uso colírio, abundantemente, tanto ou até mais que ele, novamente sem ironia. Afinal, essa Santa Rita do Passa Quatro anda tão ou mais seca que a capital federal, terra de pessoas simpáticas, trabalhadoras, honestas, por nascença ou adoção, e terra de uma gente que mais infelicita que beneficia essa Terra de Vera Cruz. Claro que essa gente última à qual estou me referindo por último, são os muitos, os inúmeros membros das elites de plantão na condução dessa Pindorama.
Elites... Pois sim.
A seca por aqui anda braba, coisa feia, mesmo. A poeira tudo cobre. Uma mera corrida dum galo atrás de uma galinha, para a prática do nobre esporte reprodutivo, levanta nuvens de poeira onde antes havia gramado. As noites secas e frias, não poucas vezes geladas, permitem-nos avistar estrelas a mais não poder, e mais a Via Láctea, esplêndida, fascinante. Pena que bate um vento chato, que seca ainda mais o que já seco está.
Haja paciência, haja muita paciência e perseverança, pois ainda temos agosto a atravessar e setembro. O mesmo setembro que em tempos idos era o mês de plantar, pois é quando começa a primavera e é quando as chuvas chegavam.
Não chegam mais, a não ser por acaso, chuvas perdidas, sem constância.
Ora, como parte das ironias muitas que a vida nos apresenta, é justamente nessa época que a bomba da mina queima. O que aconteceu porque trabalhou tempo demais no seco, vibrou demais, caiu do suporte, quebrou a caixa que armazenava a água que ela bombeava cá para cima e, por fim, entrou em curto e queimou. Adeus bomba.
Comprar nova bomba não é difícil, embora o dinheiro não permita o luxo de cobrir imprevistos, afinal, já não cobre nem mesmo os previstos. O problema é comprar nova caixa para armazenar a água a ser bombeada. O ideal é que tenha ao menos
Embora com
Ó ceus, ó vida...
Chamei o Toninho, o homem da água. Foi ele que furou esse poço há 11 anos. Diziam os vizinhos que não tínhamos água por aqui. Alguns poços já tinham sido furados, em vão. Mas o Toninho, ou Tonho, como também é chamado, disse que isso era bobagem. Confiei na sua confiança e contratei-o.
Lembro como se hoje fosse... Ele chegou, desceu do carro, pegou um pedacinho de ferro em Y e disse que era aquele trem que ia dizer-lhe onde furar.
Ai ai ai... Pensei com meus botões, onde é que eu fui botar meu dinheirinho... De repente, num lugar bastante improvável para todos nós, leigos, e pertinho de casa, ainda por cima, a varetinha segura por suas duas mãos apontou para baixo. E com força, aparentemente. É aqui – disse ele. E aqui estamos nós, onze anos depois, a beber e a usar a santa água do nosso poço. Mas agora ela secou. Demos uma noite de descanso, ligamos a bomba... Vinte minutos depois, secou de novo. O jeito foi apelar e chamar o Toninho. Ao telefone já disse-me: Qual seca, nada, seca é só em agosto e olhe lá, o poço tem água, sim.
Santa confiança, e nela confiei, mais uma vez.
Bom, resumindo o que já está muito longo, ele tinha razão: a bomba estava puxando água demais, acima da capacidade de reposição do poço. Regulagem feita, a água voltou a cair e a encher as duas grandes caixas, uma para nós, os macacos sem pelo aqui habitam, outra para as quadrúpedes de muitas tetas e grandes “peitos”, comedoras de capim e cana.
Com a vazão no volume que está, demoraremos uns dez dias para encher as duas caixas com
Não faz mal, o bom é que temos água. Bendita sensação essa.
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