Há algumas semanas esperávamos pelo jantar na casa do César e da Rose, nossos vizinhos de sítio, papeando, eu e Cesar, sobre futebol ou sobre vacas, meus assuntos prediletos, e agora também os dele. Conversa vai, conversa vem, veio uma bela salada de alface para a mesa. A Rose disse que aquela alface era ‘velha’, era alface plantada pela dona Terezinha, usando sementes que veio guardando ano após ano desde há muito tempo. Ao comer, reparei que o sabor era mais intenso, era um sabor que eu conhecia de outros tempos, o gosto de alface era mais pronunciado. De fato, estava comendo uma alface de outros e velhos tempos.
Lembrei-me, como sempre lembro, de uma passagem de “Fazenda Malabar”, hoje e sempre meu livro de cabeceira sobre ser agricultor e criador, escrito por Louis Bromfield, romancista e agricultor americano, que viveu toda a primeira metade do século XX e poucos, pouquíssimos anos da sua segunda metade. Mais de uma vez Bromfield fala de velhas variedades de frutas e vegetais, desenvolvidas muito antes dos modernos tempos das grandes cidades, grandes populações e grandes distâncias a serem percorridas pelos produtos que vão à mesa dos citadinos, exigindo a produção em larga escala, a baixo custo, de produtos desenvolvidos para suportarem transporte e armazenamento sem perda da qualidade aparente. Aparente, sim, pois nesses produtos, já naquela época, era mais importante uma boa aparência para os incautos consumidores urbanos do que, propriamente, qualidades como sabor e textura.
Já nos anos quarenta, quando “Fazenda Malabar” foi escrito, ou seja, há pouco mais de cinqüenta anos, o mercado consumidor começava orientar o produtor para receber produtos mais bonitos, mais vistosos, que antes de irem à boca enchessem os olhos, que por sua vez iriam cuidar de aguçar o desejo em nossos primitivos cérebros.
Os pêssegos estavam na linha de frente das frutas modificadas. Já eram grandes e bonitos, suculentos, sem dúvida, mas de sabor ausente ou quase nulo. As maçãs tampouco haviam escapado à sina do modernismo agrícola, e por essa rota podíamos seguir enumerando outros produtos. Uma coisa era certa: as maçãs Golden Delicious que os americanos comiam estavam a anos-luz da fruta que a serpente deu para Eva, segundo o relato bíblico.
Isso me leva a pensar: tinha tâmaras na Última Ceia?
É provável que sim, é bem provável, pois a tâmara era alimento de grande importância no Oriente Médio da época de Cristo. E aqui vem o porquê dessa crônica hoje.
Entre 1963 e 1965, arqueólogos descobriram diversas sementes numa escavação na fortaleza de Massada, às margens do Mar Morto, que foi destruído pelos romanos no ano 73 de nossa era. Em 2005, algumas das sementes foram identificadas como sendo de tâmaras e foram datadas pelo Carbono 14 como coletadas no período entre
Três delas foram plantadas em vasos e uma germinou, dois mil anos depois de ter sido colhida.
É a planta cuja foto ilustra esse post. A partir de material genético retirado dela, pesquisadores descobriram que ela é diferente de todas as modernas tamareiras existentes. As mais parecidas são as cultivadas no Iraque, e as mais distantes em termos genéticos são, também, as mais distantes geograficamente, cultivadas no Marrocos.
Restam, ainda, alguns anos para essa tamareira atingir sua maturidade – bom, não deixa de ser meio divertido escrever isso sobre uma planta cuja semente já tinha 2.000 anos – e só então os pesquisadores saberão se essa planta é macho ou fêmea. Se for do sexo feminino, será menos difícil conseguir polinizar suas flores com pólen de tamareiras modernas, gerando frutos com características dos antigos, mas não exatamente iguais. O ideal, para a pesquisa, para o conhecimento e – por que não? – para o paladar e o mercado, seria o plantio das outras sementes, obtendo-se mais plantas, entre as quais, com certeza, machos e fêmeas, possibilitando a produção de frutos com dois mil anos de idade.
Possivelmente, frutos idênticos aos que foram consumidos na Última Ceia.
Mas...
Sempre há um ‘mas’, até para produzir tâmaras do tempo de Cristo.
A objeção, nesse caso, parece vir dos arqueólogos que, pelo que pude entender da matéria, não estariam muito dispostos a ceder outras sementes para plantio e precisariam ser convencidos da grandeza desse gesto. Várias grandezas, desde a biológica, agronômica e genética, até a gastronômica, sem falar do valor religioso.
Que “São” Indiana Jones ilumine as mentes dos arqueólogos guardiões das sementes.
Enquanto isso acontece em terras d’além-mar, em breve estarei na casa da dona Terezinha e do seu Alcindo, para uma visita, um café, uns ‘par’ de dedos de prosa e, quem sabe, meia dúzia de sementes de alface das antigas.
A horta do sítio, agora em processo de reconstrução, agradecerá.
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