Sabem os leitores desse Olhar Crônico e desse Olhar Crônico Esportivo, ou deveriam saber, que sou um amante da língua portuguesa. Também o sou da língua portuguesa falada no Brasil. Não é difícil vocês encontrarem palavras e expressões que no dia-a-dia nosso estão em desuso ou já trancafiadas no arquivo morto.
Desuso e trancafiadas: duas palavras não muito comuns, né?
Para ajudar, esse “né”, que o Houaiss não só reconhece como classifica na mui digna e útil família dos advérbios.
Aliás, até mesmo esse “Houaiss” tem significado próprio, tendo sido empregado como sinônimo de e referência a um dicionário.
Marketing é palavra usual nos meus escritos, mormente no Olhar Crônico Esportivo e, confesso meio sem graça, já usei o vocábulo mercadologia, porém muito mais como uma curiosidade do que propriamente como sinônimo de marketing. Nem dá para comparar um e outro, não é mesmo? Claro que vocês, leitores cultos e bem informados, sabem que esse mormente empregado aí atrás e principalmente ou sobretudo são a mesma coisa, assim como maiormente, do qual mormente é uma contratura – não muscular, mas gramatical. Embora qualquer guri “analfabetizado” por nosso sistema de ensino saiba o que é uma contratura muscular, ele ignora, desconhece, não tem a menor idéia do que seja uma contratura gramatical. Se bem que, verdade seja dita, o comum e correto é dizer contração gramatical e não contratura gramatical. Contudo, contratura é sinônimo de contração, logo, é perfeitamente lógico usá-la para explicar o né e o mormente.
Contudo, contratura, contração... Com tudo isso a razão de ser desse texto perdeu-se em algum lugar lá pra (mais uma contração ou contratura) trás.
Graças ao meu GPS específico para textos, principalmente os metidos a besta, descobri onde foi que fiquei perdido: logo no início. Voltemos, portanto, a ele.
Sabem, também, os leitores, sobretudo os do Olhar Crônico, que sou o feliz, embora acabrunhado, proprietário do Sítio das Macaúbas. Sabem todos os brasileiros leitores desses blogs que sítio é um pedaço de terra usado para a prática agrícola ou para a criação de animais, vacuns na maior parte, os populares bovinos, mas também porcinos, caprinos, ovinos, eqüinos e outros, até mesmo girinos e alevinos, que depois crescem e, mudando de tamanho, mudam de nome, passando a serem chamados de rãs e peixes. Isso é um sítio, local costumeiramente contemplado com belas e desertas piscinas, sonho de onze em cada dez urbanícolas que sonham com uma vida mais doce, quieta, realizadora...
Dizem os dicionários, e somente eles, que sítio é o mesmo que local, lugar, e é, também, endereço.
Apegados a essa visão dicionaresca da cultura e da vida, muita gente boa e muita gente nem tanto, como certo deputado, prega o uso dessa palavra em lugar de site – sáite, em bom português tupiniquim – para designar endereços de internet, as populares romipeiges, ou homepages, como falamos no moderno português praticado nesse imenso bananal.
Que sandice! Coisa mais boba dizer para um amigo: “Acessa o sítio do Emerson, ele escreveu mais abobrinhas.”
“Acessa o sítio... mais abobrinhas.”
Tenebrosa combinação.
A sandice, todavia, não pára em site x sítio. Imaginem, estimadíssimos, que querem deletar de nossas vidas até mesmo o verbo deletar!
Absurdo!
Nada mais latino, nada mais puro, nada mais “última flor do Lácio” do que deletar, derivado do latim delere e deletum. Por sinal, o post anterior do Olhar Crônico foi, justamente, Delenda Itaipu. Sendo assim, não vou alongar-me nesse ponto, mas recomendo a leitura ou releitura de “Delenda Itaipu”. Caso queira, aproveite e printe esse texto na sua impressora, mas procure usar papel reciclado. Esse blog, ou site, ou homepage, é a favor do ambiente, de preferência por inteiro e não pelo meio. Portanto, olhos à obra na leitura ou releitura recomendada. Afinal, chove a cântaros nessa sexta-feira meio-feriado e nada melhor que perder tempo com um pouco de abobrinhas escritas por um blogueiro que gosta da língua viva e em constante crescimento, não necessariamente mutação.
Capisce?
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Um comentário:
Cheguei aqui por acaso, mas muito bom seu post. Tenho um amigo chamado Carvoll na web que é amante das letras e que me fala muito sobre esse negócio da língua portuguesa, creio que especialmente no Brasil, estar em permanente mutação.
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