(Ou: uma obra de ficção política. Ficção? Tem certeza?)
Washington, DC, um dia qualquer de janeiro de 2012. Na sala da direção de tv lotada com equipamentos eletrônicos, o clima é de tensão e nervosismo. O diretor de tv repete a mesma pergunta a cada dez minutos.
- Onde está o avião da comitiva brasileira? A nevasca está se aproximando e se demorar muito vão ter que desviar para o sul e a reunião de cúpula será um fracasso.
- Calma, Doug, os caras da Força Aérea disseram que está a quinze minutos de vôo, agora. Relaxa, cara, relaxa.
As telas mostram a chegada há uma hora da Presidente Hillary Clinton, ou simplesmente Presidente Hillary, como prefere ser chamada. Deve ter lá seus motivos para essa quebra da tradição, do protocolo e da educação. Apesar do frio e do vento, ela dirigiu-se à pista e recebeu com um caloroso abraço a presidente da Argentina, Dona Cristina, recém-reeleita para mais quatro anos. As duas mulheres dirigiram-se apressadamente para o salão do Aeroporto especialmente preparado para a ocasião. Agora, as câmeras mostravam os diversos grupos espalhados pelo salão em animadas conversas. A roda mais numerosa reunia os primeiros-cavalheiros dos Estados Unidos e da Argentina. Os outrora poderosos presidentes ocupavam agora papéis secundários, apesar dos esforços do Senhor Kirchner em aparecer ao lado e um pouco atrás de sua esposa em todas as solenidades. O comentário geral
- Pombas, mas por que esse avião atrasou tanto? O que foi que houve? O protocolo, as agendas, os horários, tá tudo quebrado, detonado, tudo terá que ser refeito.
- A CIA disse que o atraso foi porque Mr. Lula estava reunido com seu amigo Ricardo Teixeira, aquele que manda em tudo por lá, no Comitê Brasil 2014.
- Mas a Dona Marisa Letícia não alertou-o para o horário?
- Olha, os informes da CIA dizem que ela perdeu poder sobre ele. Agora ele vive mais para essa Copa do que para Brasília e os interesses do Brasil.
- My God...
- Três minutos para o pouso! – o alerta veio do fundo, do rapazinho sardento com um comunicador digital ligando a boca à orelha ou vice-versa. Não importava, o bom é que o negócio funcionava.
Doug olhou para o lado ao ouvir um resmungo. Era o coronel da Força Aérea encarregado de supervisionar o pouso do avião presidencial brasileiro. Percebendo o olhar, o coronel virou-se para ele e começou a reclamar.
- Veja só, um Airbus, uma droga dum avião europeu comprado com o dinheiro que pagamos para eles pelo álcool e pelo café. Deveriam ter tido a decência de comprar um Boeing.
Sem vontade para responder Doug acenou, um gesto que poderia significar qualquer coisa, da concordância total à desconcordância absoluta. Não tinha mais paciência para ouvir as eternas reclamações fardadas.
O avião taxiou e dirigiu-se para a frente da torre. O piloto parou o monstrengo voador exatamente no tapete vermelho parcialmente coberto pela neve. Rapidamente, a porta do aparelho foi aberta e dois agentes da segurança presidencial brasileira apareceram, olhando para tudo. Enquanto um permaneceu ao lado da porta, exposto ao vento ártico, o outro desceu e encontrou-se com seu colega americano, mergulhando em tão profundas quanto desnecessárias conversas sobre a segurança da comitiva.
Um rápido olhar da comissária-chefe, que encostou-se à fuselagem, dando passagem para a Presidente do Brasil, Dona Marisa Letícia. Nesse momento, a banda do Corpo de Fuzileiros Navais começou a executar “Aquarela do Brasil”. Dona Marisa Letícia tinha feito questão de ser recebida com toda a pompa e circunstância a que tinha direito. No pé da escada, as duas presidentes dos dois maiores países das Américas encontraram-se, trocando um abraço e beijos nos rostos. Com aquele vento gelado e os flocos de neve essa não era uma boa idéia, mas,costumes são costumes, e se os brasileiros gostam de se beijar, beije-se, então.
O primeiro-cavalheiro desceu logo depois e trocou demorado e efusivo com Bill, o primeiro-cavalheiro americano. Conversando animadamente com um intérprete entre ambos, dirigiram-se para o salão atrás de suas presidenciais esposas.
Começava naquele momento, para valer, a Reunião de Cúpula das Américas. Em pauta, a invasão da Colômbia comandada pessoalmente por Hugo Chávez, Presidente e Protetor Eterno da República Bolivariana da Venezuela.
- Emerson, Emerson... Emerson... Emerson!
- Hummm? Que é, que foi?
- Levanta, você perdeu hora, já passa das oito.
- Saco!
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2 comentários:
Emerson,
Mais do que ficção, ou pesadelo, isso pode ser premonição.
Cruz-credo!
Lilly
Cara, tomara que isso seja só um delírio teu. Um pesadelo.
Acorda e pára de assustar a gente.\
Beto
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