quinta-feira, janeiro 18, 2007

Uma tragédia urbana


.

Durante quase seis anos esse prédio foi minha casa profissional.

Nesse período, nos primeiros tempos meu carro ficava no estacionamento externo. Hoje, e desde a tarde do dia 12 desse mês, ele não existe mais, foi substituído pela cratera. A bem da verdade, ele já não existia há meses, pois virou canteiro de obras para as obras do metrô.

Promovido, passei a deixar meu carro na garagem subterrânea do prédio. Pegava o elevador e, da minha sala, contemplava as colinas do Morumbi e o Butantã. Se eu fosse para a sala de algum colega olhava o campus da USP. Abaixando a vista, já daria para ver o estacionamento que já não existe.

Dizem que o prédio está seguro, sem a menor ameaça. Creio que sim, parece que sim. Egoísta, confesso-me feliz por não mais trabalhar no Edifício Passarelli. Não sei se conseguiria trabalhar tranqüilo, algumas dezenas de metros acima do solo, tendo uma cratera com outras dezenas de metros de profundidade e quase com a mesma área que um campo de futebol, bem ao lado, até precisando tomar cuidado para não escorregar e despencar buraco abaixo.

Frequentemente meus pensamentos vão para as pessoas que estavam na van, umas trabalhando, outras a caminho de compromissos ou apenas indo para casa. E para a velha senhora, com 75 anos de idade, que fazia aulas de surf e caminhava pela rua quando foi tragada, literalmente, pela terra que se abriu. Impossível pensar em todo o terror e sofrimento que foram os minutos finais, com toneladas de terra por todos os lados, a escuridão absoluta.


Que descansem em paz.


O governador tem acompanhado tudo de perto. Nesse momento é ele a única esperança que resta às famílias das vítimas dessa tragédia de serem socorridas e não sofrerem ainda mais, agora materialmente, com as perdas de seus pais, maridos e filhos.

E a culpa?

E a causa?

Já são muitas as hipóteses, assim como as acusações.

Cabe esperar pela apuração de tudo que ocorreu. Sair acusando a torto e a direito, agora, em nada ajuda e a nada conduz.

As cinco empresas envolvidas na obra e, em tese, responsáveis por tudo, são as maiores do Brasil na área de engenharia e construção civil. Não lhes falta capacitação técnica, recursos, experiência, pelo contrário, pois, justamente por terem tudo isso é que foram escolhidas.

A tragédia já aconteceu, vidas foram perdidas.

Não vejo cabimento nas declarações de membros do Ministério Público que querem manter a cratera tal como está, como “prova”. Em nada se incomodarão com o atraso dessa linha do metrô, em nome da “segurança e da justiça”, que poderão ser atendidas sem prejuízos, mesmo com a obra seguindo. O metrô não é luxo, é necessidade vital há décadas.


.

Nenhum comentário: