Há muitos anos não vou a Nova York. Na verdade, desde antes do 9/11.
Sinto vontade, ocasionalmente. Mais que vontade, sinto necessidade de voltar a Nova York, principalmente para ir ao espaço vazio onde ficavam as torres do WTC. Uma só vez fui até lá, num dia de turista pleno. Fui ao Top of the World num dia bonito de inverno. Não fui jantar no Windows of the World, restaurante que funcionou por muito tempo no alto de uma das torres. Uma noite eu ia, mas, sei lá, bateu uma preguiça, uma certa vontade de não gastar muito, também fiquei em dúvida se jeans com blazer e gravata seria adequado... Fui à pizzaria da esquina, passando antes pela grocery de um casal coreano, abasteci-me de frutas, chocolates e pizzas e passei a noite no hotel, lendo e vendo tv. Já fiz escolhas melhores.
(Gosto e abuso de longas introduções; essa ainda não acabou, mas vai acabar já, já, prometo.)
Por que esse desejo?
Porque acho que ainda não senti em sua plenitude o impacto do ataque às torres. Já pensei e escrevi a respeito muitas vezes, mas acho que ainda falta sentir. Imagino que estando lá, no local, relembrando como era, eu venha a sentir a dimensão do crime. Será?
(Corta para o Japão, um dia qualquer da semana passada, para a situação vivida e descrita em sua coluna semanal pelo Ricardo Anderaos, editor e colunista do caderno Link, do Estadão, e autor do blog Wireless, ancorado no Estadão.)
“O tempo parou por quase um minuto naquela fila da estação de Nara. Tempo necessário para que o motorista de táxi e a guardinha da estação de trem assimilassem a notícia de que a Coréia do Norte acabara de explodir sua primeira bomba atômica. E olha que uns minutos de atraso, pelos padrões japoneses, não é pouca coisa não.
Pela reação dos dois imaginei o impacto que a notícia estava causando, naquele exato momento, por todo o Japão. Afinal de contas, a Coréia do Norte está a um tirinho de espingarda daqui. E as feridas de Hiroshima e Nagasaki estão longe de fechar.”
Isso aconteceu na saída da estação ferroviária de Nara. Na coluna, cuja versão integral está no jornal de hoje e também em sua edição digital (com acesso apenas para assinantes), o Anderaos descreve o burburinho, o monte de gente, a longa fila para pegar um taxi, a rapidez e eficiência com que um táxi atrás do outro chegava e partia, tudo isso quebrado, bruscamente, pela paralisia momentânea que acometeu seu motorista. A guardinha do texto citado era uma senhora já bem idosa, funcionando com eficiência nipônica na orientação de motoristas e passageiros.
Por aqui, as reações não existiram, a bem dizer, fora dos noticiários. As pessoas, em absoluta maioria, passaram batidas por esse episódio. Eu mesmo pouca atenção dei a ele, afinal, a realização desse teste já era esperada há muito tempo, não foi surpresa para ninguém. Ou melhor, até foi um pouco surpreendente a baixa capacidade da bomba, já que os analistas esperavam a explosão de um artefato de 4 a 5 vezes mais potente.
Para o povo japonês nada disso foi necessário. Uma bomba atômica, mesmo pequena, é uma bomba atômica. Ainda mais quando estacionada a poucas centenas de quilômetros de suas maiores cidades, num país fechado, com um regime ditatorial severo e um dirigente que não goza de confiança alguma da comunidade internacional.
Eles sentem fisicamente o que nós sequer conseguimos imaginar.
Nesses momentos, viver num país e num continente que não contam e não aparecem no cenário internacional, tem lá suas vantagens, verdade seja dita.
Na arena mundial não somos protagonistas
O Brasil muitas vezes parece um lugar à parte do mundo real. E nem sei se cabe aqui essa palavra “real”.
Sei lá... Sinto que estamos fora do mundo.
Um comentário:
Mas nós temos Lulla e o PT aqui, Emerson...
Um abraço!!!!
Postar um comentário