quarta-feira, outubro 18, 2006

Fernando Gasparian


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Curioso, nunca conheci o Gasparian, mesmo fotos acho que vi duas, três, talvez. Mas esse "burguês progressista" mudou minha vida. Ou melhor, foi parte de um processo de mudança , talvez o agente catalisador. E, por favor, "burguês progressista" é um elogio, e está entre aspas porque foi assim que um antigo companheiro descreveu o dono do Opinião, há mais de trinta anos.

A grana era curta, mal dava pros ônibus e um sanduíche frio, mas dava um jeito de economizar pra comprar o jornal. Por ele a gente respirava. Cada número do Opinião era uma aula multidisciplinar. Política, cinema, artes plásticas, sociologia, história, literatura...

Adolescente e empolgado, a cada número esperava encontrar uma receita pra revolução, um jeito certo e rápido de transformar tudo aquilo que nos rodeava e enchia de angústia, sem falar do medo. Nunca apareceu tal receita e, se apareceu, não li. Para ser sincero, aliás, muita coisa que ali estava eu não entendia. Algumas vim a entender com a passagem do tempo e o acúmulo de conhecimentos e vivências. Outras, desconheço até hoje. E não são poucas.

Foi um artigo do Opinião, combinado com "Os subterrâneos da liberdade" em leitura escondida dos companheiros que achavam Jorge Amado um atraso, além de stalinista, que mudou minha maneira de fazer política e minha visão de mundo. O artigo, acho que já o citei em outra oportunidade, fez-me entender que as instituições são mudadas por dentro e era um chamado a botar as mãos na merda que era a política, tal como a víamos. Não tenho total certeza, bom, acho até que tenho certeza, seu autor era um professor que fora da USP e fora cassado, Fernando Henrique Cardoso, que naquele momento era dirigente e fundador do CEBRAP, um centro de estudos e pesquisas que seria vítima de um atentado a bomba anos depois. Talvez por ser financiado, em parte, pela Fundação Ford. Mentes obscuras até hoje não entendem o papel e a importância que muitas dessas fundações tiveram em muitas partes do mundo, apoiando e ajudando a sobrevivência de pessoas com idéias em nada parecidas com as do velho Henry Ford e outros.

Refleti muito depois dessa leitura, pensei bastante, as idéias colocadas ali faziam todo o sentido do mundo na minha cabeça e decidi-me. Entrei no velho MDB, onde fui trabalhar para o deputado do Partidão, o Alberto Goldman. Nosso primeiro trabalho foi fazer campanha pro Quércia ao Senado, em 74. Grande vitória, grandes vitórias, elegendo os senadores de 16 dos então 22 estados. Não foi pouca coisa. E foi maravilhoso.

Vieram os anos de millitância, até que parei com tudo aquilo em 85.

Gasparian, através do Opinião, influiu decisivamente na minha vida por doze anos.

Descanse em paz.

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