sábado, janeiro 02, 2016

Chove chuva, chove sem parar... E da chuva para a crítica

Chove chuva, chove sem parar... E da chuva para a crítica

Chove no Macaúbas.

Uma pancada de respeito agora à tarde acrescentou mais 25,0 mm ao ano em curso. A soma já  vai em 43,0 mm e estamos no segundo dia do mês e do ano.
Nos últimos 10 dias são 125,0 mm acumulados.

O leite quebrou um pouco – tradução: a produção de leite das vacas sofreu uma queda. Chuva demais, conforto a menos.

O barro abunda.
A frase é horrorosa, mas quem disse que a realidade não é, por vezes, horrorosa?







Um vizinho veio buscar uns sacos de adubo bem a tempo de pegarmos o início do chuvão e nos molharmos mais que o desejável.

Virei praticante do velho escambo.

O escambo é necessário à sobrevivência. 

Estou usando o adubo de uso futuro e de uso presente suspenso pela impossibilidade de fazer investimentos para pagar parte da conta da comida que as vacas comeram na seca que há muito ficou para trás.

Meu caixa, que é mera teoria numérico-contábil, dá uma respirada (teoria respira?) (sim, teoria respira) e a gente empurra tudo para o futuro.


Há quem diga que o ano será bom para nós, os produtores de leite. 
Analista de respeito disse que a queda observada na produção levará, forçosamente, a um aumento no preço pago a nós da ordem de 15%.

Uau! Que maravilha...

Só que não.

Esse “nós” do analista tem como base os produtores de mil litros diários para cima. 
Pequenos como eu, hoje com duzentos, em fevereiro com trezentos se nada acontecer errado, não estão na alça de mira dos analistas. Nossos aumentos são menores.

Por outro lado, o mesmo analista diz que teremos uma alta de pelo menos 12% nos custos, especialmente de ração.

Ora... Bom, deixa quieto. 
Esse analista é discípulo fiel e cego dos propagandistas do governo, que estouram champanhes pelos onze e cacetada porcento de “aumento” do salário mínimo, quando a inflação do ano foi de... 11%.

Inflação oficial e teórica, posto que na prática, na tal de vida real, ela foi muito superior.


Outro problema com analistas e suas análises: focados nos grandes, eles ignoram que nós, os pequenos, temos custos maiores porque não temos capacidade e volume para conseguir descontos e para fazer compras antecipadas aproveitando ofertas. 

A gente almoça o leite que será produzido na janta, isso, é claro, se tivermos sorte. 

Na verdade, estamos almoçando hoje o leite que será produzido no mês seguinte.


Então, é assim.
Há uma crise.
Há, na verdade, duas crises.
Uma é geral, genérica, formal, oficial e grandiosa.
É a crise que se comenta em grandes discursos.

É a crise que os defensores “disso tudo que está aí” dizem que não existe ou que é exagerada. Ou, cientes do tamanho do monstro, aproveitam qualquer coisinha, por mínima que seja, para desviar o assunto, o foco e o rumo.


A outra crise é miserável, específica, desconhecida dos “grandões” (como uma amiga suíça se referia aos donos dos poderes). É a crise minúscula da falta de dinheiro para o aluguel da casinha minúscula e já miserável na periferia da periferia das cidades. 

É a crise que os "defensores" dos trabalhadores desconhecem. 
Nem podem conhecer, pois, na maioria, eles só conhecem “trabalhadores” dos sindicatos e para esses é tudo sempre uma beleza, sem chuvas, nem trovoadas.


Essa outra crise, a crise dos miseráveis, é também a crise dos pequenos produtores de leite, dos pequenos produtores rurais de tudo, dos pequenos industriais, dos pequenos comerciantes, dos pequenos empresários...

É uma crise que os donos do poder e seus defensores – tão cegos quanto calhordas – também ignoram. 
E ainda nos chamam de “coxinhas” quando reclamamos.


Um dia, espero que não, mas, sei lá...
Um dia hei de dizer em alto e bom som tudo que penso dessas pessoas.
Serei execrado.
Serei chamado de um monte de nomes.
Perderei um monte de amigos.

E meu fígado agradecer-me-á profundamente.
E viverei em paz com ele, meu precioso fígado.


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