No Senado romano, pouco menos de dois séculos antes de Cristo, Catão terminava seus discursos com uma frase que ficou célebre:
“Delenda Carthago”
Hoje, qualquer bom jogador de vídegame e com algum poder de observação e inteligência, traduziria a frase sem maiores problemas:
“Deleta Carthago!”
E estaria correto, eis a verdade. Porque a raiz de to delete é latina – delere e deletum, o verbo e seu particípio passado – e o português nada mais é que uma derivação do latim, assim como boa parte do inglês. Apesar disso, dizem as autoridades lingüísticas brasileiras que não é recomendável usar o verbo – já é um verbo, ao menos em minha opinião – deletar. Os dicionários e seus autores e, com certeza, aquele deputado que insiste em dar um fim ao uso de palavras estrangeiras em nossa língua –– indignam-se com tamanho estrangeirismo.
Antes de avançar no assunto, um pequeno parênteses: a depender da vontade do nobre parlamentar – tão atarefado com os problemas desse imenso bananal que permite-se ao luxo de desfilar pelas dependências de seu clube do coração abraçado a um dos pais do famoso, burro e há muito sepulto Plano Cruzado – a nós, brasilianos, somente seria permitido falar o mais puro e intocado tupi-guarani, pois nem o nheengatu do Brasil Colônia seria admissível, posto que contaminado por lusitanismos e latinórios diversos. Com certeza, herança deixada por Anchieta, Nóbrega e outros doutos jesuítas que d’além-mar para cá vieram com a Verdade e a Palavra, além de muitas roupas, para civilizar essa Terra de Vera Cruz. Percebe-se, a uma simples mirada, que apenas conseguiram barbarizar o que já era civilizado.
Deletem tudo isso de suas cabeças, pois voltaremos agora ao fio da meada desse texto: “Deletem Carthago!” Como a grande e guerreira cidade-estado da norte-africana margem do Mediterrâneo é só uma lembrança em livros de história e blogs metidos a besta, vamos de uma vez por toda à razão de ser desse texto, ou post, dependendo de onde você o lê, leitora amiga, leitor idem.
Deletem Itaipu!
O novo presidente paraguaio, Dom Lugo, e o “dom” aqui tem duplo sentido, quer porque quer que o Brasil aumente uma barbaridade o preço da energia produzida por Itaipu. Pelo menos 500% de aumento!
O governo bananeiro de Brasília, diz que não pagará um centavo a mais. Quando muito, poderá antecipar pagamentos como prova de amor & carinho pela terra guarani, dessa forma dando uma mãozinha ao governo do país-irmão em sua busca pela felicidade, dólares, euros, ienes, rublos e até reais – não me perguntem em que ordem devem ser citados esses fatores.
Temos um impasse à vista, algo mais chato e que será mais discutido que o gás do Palestra Itália e a falha do juiz no último jogo, qualquer que seja ele. Muito mais chato, até, do que ler a respeito dos múltiplos e indecentes acordos políticos unindo Aécio ao PT, Serra e Kassab ao Orestes. Haja estômago para tanta porcaria.
De um modo ou de outro, com a eleição de Dom Lugo e antes mesmo de sua posse, temos um impasse nesse momento.
Como resolvê-lo?
De preferência, é bom dizer, antes que certo coronel venezuelano arribe em Assunção e resolva peitar o bananal a bordo de seus espetaculares Sukhoy 35.
Para mim a resposta é simples:
“Delenda Itaipu!” – e não se fala mais nisso.
Deletem Itaipu e dêem-nos de volta as portentosas Sete Quedas, que tive o prazer de visitar pouco antes do fim, alguns dias antes do trágico acidente que vitimou um grande número de pessoas que cruzavam uma das suas assim chamadas “pontes”.
Acabemos com o imenso e barrento lago, local preferido por onze de cada dez contrabandistas como rota para seu enorme comércio. O destino de Itaipu, não muito distante já (lembro-me que foi feito um estudo no início dos oitenta, que apontava 2025 como data-limite para seu uso pleno), é a inviabilidade operacional por conta do gigantesco assoreamento de que é vítima a cada nova estação chuvosa. Talvez por conta do maravilhoso plantio direto, prática agrícola que elimina a aração e gradeação e em conseqüência reduz muito, e até elimina as perdas de solo pelas chuvas e ventos, a barragem e sua represa monstruosa tenham ganho alguns anos de lambuja. Mas não há salvação no horizonte, essa é a verdade. Então, antecipemos o seu fim. Quero as Sete Quedas de volta
Melhor isso do que uma nova Guerra do Paraguai.
Quanto à substituição da energia gerada por Itaipu é simples: construam-se cinco ou seis centrais nucleares de médio porte espalhadas pelas áreas de maior consumo e pronto, está resolvida a questão e, como brinde, ganhamos o fim do monstrengo chamado “linhão de Itaipu”. A paisagem agradece.
Ah, energia nuclear é ruim e vai levar à destruição do planeta?
Ok, sem problemas. Voltemos às tabas, malocas e cavernas e não se fala mais nisso.
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Um comentário:
Oi Emerson,
sempre estimulantes seus textos - deleta Cartago, hehehe. Deleta Brasília, comecemos de novo na Cidade Maravilhosa. Ou com Maurício de Nassau. Ou desviemos Cabral? Hum.
AInda estou navegando para descobrir como inserir os seus blogs nos meus favoritos. Quem sabe eu consiga.
Beijos, saudades,
Claudia
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