quinta-feira, abril 17, 2008

Chegou!


Chegou?

Olha, acho que sim, acho que chegou sim. Jantei sopa duas vezes nessa semana, o cálice de Porto está mais desejado e melhor saboreado, os dias estão mais cinzentos e gostosos e, por último, mas não menos significante, já peguei a minha gripe da temporada.

Sim, ele chegou, o frio.

A mídia já mostrou imagens de Santa Catarina coberta de gelo. Claro que não o estado inteiro, que por sinal tem lugares bem quentinhos, mas uma ou outra localidade em que a geada chegou de madrugada e deixou aquela película fina sobre as plantas, alegria dos turistas e dos desinformados e tristeza dos agricultores. Se bem que agricultor das áreas frias catarinenses não deve ter muito que temer de geadas, mesmo nesse meado de abril.

Falei, propositalmente, “Santa Catarina coberta de gelo”, assim como não me referi a jornais e emissoras de TV, e sim à mídia. Generalizações... A primeira, completamente desprovida de lógica e correção. A segunda corretíssima. Todo aquele Vale do Baixo Itajaí,por exemplo, é região quente, a linda Blumenau que o diga. Assim é por conta da geografia, pois a proximidade do mar, a altitude em relação ao mesmo e a localização das montanhas próximas determina um microclima mais ameno, ou mais quente, para a região. Já a mídia...

Como cresceu a mídia!

Sua leitura inconseqüente desse texto idem, prezada leitora e prezado leitor, é uma prova dessa afirmativa. Sem entrar no mérito de sua qualidade, esse Olhar Crônico é parte da mídia. Com um pouquinho menos de peso que a Veja e o Estadão, claro, típicos representantes da mídia, mas também parte desse conjunto. As duas publicações são parte do subconjunto “mídia impressa”, enquanto esse blog seria parte da “mídia...”, sei lá, eletrônica? Não, essa designação é exclusividade das emissoras de rádio e TV. Cibernética? Bom, taí, gosto desse nome: mídia cibernética. Que seja. Mas tudo é mídia e ela tudo cobre, instantaneamente, seja uma geada em algum recanto catarina, seja a última gafe ou mentira de Lula e Bush, ou ambas as coisas para ambos os líderes. Um, que deveria ser, mas nunca foi aceito como tal depois dos primeiros discursos, o líder do chamado mundo livre. O outro, bom, no que me diz respeito deixou de ser líder quando deixou a vida sindical. Como o meu gosto pessoal não é lá muito relevante, ele segue líder de um monte de gente e gente muito boa.

Alto lá!

Preconceito aqui, não!

Antes de tudo tento ser um cara justo. Os liderados por Lula são, em sua maioria, pessoas excelentes, com suas belíssimas qualidades como pais, filhos, maridos, esposas, sobrinhos, amigos, amantes – ué, faz parte, né? – e outras categorias mais, pessoas como você e como eu. Infelizmente, não posso dizer o mesmo dos associados a ele na condução do poder, seja na burocracia estatal em suas diferentes formas e poderes, seja na burocracia partidária. Sobre esses, porém, não perderei o meu e o seu tempo dedilhando linhas e linhas a respeito. Passo e voto nulo.

Ora, e o inverno, razão de ser desse texto que se pretende crônica? Já volto a ele. É que não acho correto ser um cronista alienado, e se tenho que escrever sobre a beleza cinzenta dos dias invernais que se aproximam, é justo e socialmente correto que gaste algumas linhas para lembrar a todos que nem tudo nessa vida é sopa e vinho do Porto, há também o Zé Dirceu – ex-primeiro-ministro bananeiro – e o Marco Aurélio Garcia – ministro plenipotenciário das relações exteriores – que fazem parte da dita cuja, igualmente.

Estamos naquela que é, para mim, a época mais gostosa do ano. Faz frio, os dias são acinzentados e garoentos, chove ocasionalmente, e é nisso que reside sua beleza e graça, o frio associado à chuva e aos chuviscos. Porque eu sou, antes de tudo, ligado à terra e às coisas da terra, e não há terra, nesse sentido de produtora de alimentos, prazeres e confortos, sem chuva, chuviscos, garoas e chuvões. O grande mal do frio propriamente dito, aqui por São Paulo e arredores, é a ausência da chuva. Sim, como compensação, porém, temos fantásticas noites de céu transparente, ora sem a presença da Lua, e aí o céu é tomado pelo esplendor de estrelas incontáveis e pela Via Láctea, ora com a linda senhora – para mim, a Lua é uma senhora – em seu máximo esplendor, gorda, corada, brilhante, iluminando a noite sertaneja com tanta força que cria sombras perfeitas umas, assustadoras outras, inda mais quando caminhamos no meio do pasto sem lanterna e sem companhia, nem mesmo da cachorrada que prefere dormir pachorrentamente na varanda.

Em noites assim, solitárias em locais ermos, e quando sopra um vento gelado vindo do sul, então... o coração se apequena, não há como evitar, e o calor e a segurança de casa, seja ela barraco ou casa-grande, é tudo que queremos e apressamos o passo em busca desse aconchego.

Ontem, a noite parecia ser desse tipo, mas se foi, de fato, não faço a menor idéia. Voltar para casa dentro do carro, cruzando as ruas da megalópole, pode ser tudo e qualquer coisa, até assustador, mas, com certeza, de poesia nada tem.

Entendeu agora algumas menções que esse texto traz?

Pois é. Nem tudo na vida é poesia ou motivo para poetar.

Até porque, noites lindas ou não, estreladas ou enluaradas, eu ainda prefiro as noites cobertas de nuvens negras carregadas de chuvas. Nisso, sim, há muita poesia.

Para mim.


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