A “marvada” me pegou
Estou derrubado.
O corpo dói, principalmente pernas, garganta e cabeça.
O nariz dá um trabalhão, quando não está aos espirros que provocam dores generalizadas, está escorrendo, ou melhor, querendo escorrer e eu, bom...
Deixa pra lá.
Minha avó, se viva fosse, diria como já disse no passado que “homem é tudo mole, mesmo”. Ela se foi, mas, acreditem, há outras mulheres que falam o mesmo no lugar dela. Não me importo, estão falando a pura verdade, pois essas coisinhas me derrubam mesmo, deixam-me irritado ainda por cima.
Essa marvada gripe tem nome: é a Gripe Dilma.
Pra curar, só com um dossiê de remédios.
Rá rá rá...
Sim, isso foi uma tentativa de risada. Não bastasse estar assim, ainda estou assim por causa da ex-futura-presidente-sem-ser-a-papagaio-de-pirata.
Humpf...
Não creio que seja dengue, meno male. Doencinha besta e velha que está em franca evolução em boa parte do planeta e que vai crescer mais ainda devido ao aquecimento global. É a mais recente previsão da OMS. No Brasil ela parece ter encontrado seu melhor habitat, não por causa de nossas belezas naturais, ou do nosso ambiente, aqui chamado de meio ambiente, ou nossas muitas águas, nada disso. Aqui ela se dá bem à beça por conta da ausência de Governo.
- Ué, como assim, se o que mais temos por aqui são governos?
- Eu disse Governo, companheiro... Governo, entendeu?
Com gê maiúsculo.
Sacou agora? Beleza.
Há vários anos nós - eu e minha equipe - produzimos um belo vídeo com uma proposta interessante. Basicamente, a idéia era que cada prefeitura comprasse um pacote de produtos e ações de uma companhia multinacional. Na linha de frente, os inseticidas contra os vetores da dengue e raticidas. Com esse pacote, uma parte com produtos e algumas ações da empresa, e outra parte com ações da prefeitura, seria criado um programa de trabalho preventivo e educativo nos municípios, atacando diretamente os pontos de infestação. Creio que fizemos esse trabalho ainda no final do século passado, talvez em 99.
Combater a dengue já era uma necessidade mais que evidente. O número de pessoas contaminadas crescia, o combate começava, mas pouco evoluía. O governo federal comprou um monte de coisas, como adora fazer todo governo. Montes de gente em várias partes foram contratados, e com esses montes criou-se uma bela burocracia.
Nada de resultados, porém, e ano a ano a doença espalhou-se à vontade. Hoje, nem vou falar sobre a situação no Rio de Janeiro, que já passou da fase "preocupante" há muito.
Puxa, tomara que eu esteja só com a Gripe Dilma.
46,4 %
Peraí, volto já... O telefone tá tocando.
- Alô! Quem fala?
- Eu.
- Eu quem? É o Emerson?
- Eu, o dono desse aparelho e dessa linha celular.
- É o Emerson?
- Claro que sou eu, pombas.
- Emerson?
- Eu mesmo, reconhece não?
- Ah, reconheci agora, pois meio bobo assim só conheço você.
- Que é isso rapaz, nós estamos falando no meu blog, se liga!
- Como assim falando no seu blog?
- É, eu estou com essa ligação no blog.
- Puxa, que legal.
- Pois é.
- Ué, mas por que você me passou um e-mail pedindo pra te ligar?
- Nada importante, não.
- Como assim?
- Calma, relaxa, liguei pra você só pra você dar uma graninha pro governo.
- Ah, pára com isso, pô! Coisa mais chata.
- Pois é, fica bravo não. Olha, essa nossa ligação tão cheia de conteúdo, demonstrações de amizade e coisa e tal, que está sendo feita do celular, vai custar uns 4 reais pra você, e assim você vai dar dois reais – arredondados – pro governo que você ama.
- Pára de sacanagem e diz logo o que você quer.
- Eu já disse, é só pra você pag... Xiiii, desligou. Acho que perdi o amigo, mas ganhei um post pro Olhar Crônico.
Pois é, estimadíssimas leitoras e, vá lá, estimados leitores. Essa ligação hipotética de um pobre amigo para mim, falando sei lá de onde, custar-lhe-ia por volta de 4 reais. Desses 4 reais, dois teriam ido pro governo.
Porque o bananal é o país com a maior taxação do mundo sobre ligações via celulares. Quase a metade, ou melhor, a metade mesmo da tua conta do telefoninho vai diretinha pros cofres federais.
Dizem que esse dinheirinho abastece as contas, infla os números do superávit primário, o que nos permite viver nesse mundo paradisíaco. Somos o povo, entre as nações com economias com algum destaque, que menos fala ao celular. Todos falam mais que a gente e todos pagam muito menos que nós. As contas médias são mais baixas e o tempo falado é bem maior.
Esses caras de fora são todos umas antas, não sabem ganhar dinheiro mesmo. Deviam estagiar aqui antes de administrarem seus países.
Agora, se me dão licença, tenho que contribuir com os cofres federais, pois tenho alguém para acalmar e trazer de volta para a lista de amigos.
Esse post tá ficando meio caro.
Post scriptum
Meu irmão mora
Acho legal, a extração do açaí preserva a floresta e preserva o próprio açaizeiro, ao contrário da extração de palmito que mata uma palmeira de
Esse post scriptum é por causa da dengue e não do açaí que meu irmão vende. Explico: ele disse-me que suas vendas diminuíram porque, provavelmente, segundo ele, diminuiu o consumo de gelados. Logo, vende menos açaí.
Pode ser, não duvido de mais nada.
Minha mãe mora com ele. Apesar do calorzinho da Baixada e dela mesma ser calorenta ou friorenta, dependendo mais do humor que do clima, usa calça comprida o dia inteiro e gasta tubos e tubos de repelentes.
Combinamos que, no caso de um deles pegar dengue – cruz credo, tomara que não aconteça! – virão imediatamente para São Paulo em busca de hospital, provavelmente para a minha casa mesmo. A menos que a situação do atendimento médico melhore muito, o que parece difícil pelo que ele contou.
Na Baixada está todo mundo apavorado com a doença do mosquitinho e os hospitais & assemelhados estão lotados, com filas dignas de consulado americano para tirar visto.
É... Welcome to Brazil.
2 comentários:
Acho que os responsáveis pelo descontrole do mosquito deveriam ser julgados no Tribunal de Haia - crimes contra a humanidade. As cenas que vemos no telejornal são verdadeiramente desmoralizantes. E o númeor de mortos deve ser maior do que o mostrado.
Porém não devemos descartar uma grande parte da responsabilidade à população - mormente às donas-de-casa - pois a maior parte da dengue é transmitida dentro das residências. As donas-de-casa perpetuam uma série de maus hábitos, cuja manutenção corre por conta da própria administração do lar. Elas simplesmente retransmitem as noções que herdaram das gerações anteriores e mantém este modêlo de vida familiar totalmente falido que temos no Brasil: produzimos uma grande quantidade de lixo orgânico, as cozinhas são de modo geral horríveis com a quantidade de trapos, esponjas velhs, pratinhos pra tudo que é resto; acumulam garrafinhas, potinhos e toda sorte de recipientes. As áreas de serviço são, na maioria dos casos, verdadeiros amontoados de cacarecos imprestáveis, na maior parte deixados ao relento.
E em segundo lugar, a histórica disposição nacional à convivência com baixas condições sanitárias: quando Oswaldo Cruz lançou os mata-mosquitos para debelar a epidemia de febre amarela no Rio, nos inícios do séc. passado, enfrentou uma revolta popular violentíssima, com tiroteios, barricadas e mortos. A população simplesmente não queria permitir a atuação dos agentes sanitários.
A convivência com a sujeira é tão disseminada no Brasil, que inclusive instituimos como de lazer o botequim horroroso chamado de "pé-sujo". E adoramos :-)
Infelizmente, bem colocado, Guido.
Já presenciei muita barbaridade andando por esse país todo. É a mesma coisa no sertão remoto e nos jardins paulistanos.
Cultura, essa é a palavra-chave. Muita gente confunde com educação, mas não é. A educação - no sentido de aprender e conhecer coisas básicas - é parte da cultura.
Por isso é tão difícil mudar a danada.
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