20 Anos hoje
Ah, que morte estupida!
Que morte lamentável!
Que perda imensa foi para essa colônia cultural e econômica a
perda de Paulo Francis. Há 20 anos hoje.
Há mortes, a maioria, que a gente aceita. Sente, lamenta,
mas aceita, pois sabemos, mesmo que só intuitivamente, que há limites, que há
hora para tudo. Não gostamos de pensar a respeito, mas sabemos da finitude das
coisas.
Há mortes, porém, que chegam fora do tempo, que chegam
quando não deveriam chegar. Mortes sem rumo e sem razão.
A morte de Paulo Francis foi prematura, foi acelerada, foi
uma perda irreparável.
Antes que o texto se alongue: credito sua morte prematura à maldita
estatal que domina o Brasil e é símbolo de sua economia e seu atraso.
E hoje, fechando à perfeição a simbologia do ruim, está
marcada e comprovada como um grande antro de roubalheira, um grande antro de
corrupção.
Francis, mesmo que sem as provas naquele momento, já sabia
disso.
Três de seus livros estão permanentemente na minha
cabeceira, não física, mas aquela cabeceira formada pelas “pequenas células cinzentas”,
como diria outro ser do século passado, mas esse só imaginário, Hercule Poirot.
São eles:
“O afeto que se
encerra”
“Cabeça de papel”
“Cabeça de negro”
Francis foi trotskista e já bem maduro e consciente da
realidade e das coisas da vida, mudou sua visão. Eu também tive minha fase, bem
curta, de trotskista. Gostar de Trotsky e sonhar os sonhos que ele e sua imagem
(a imagem, o imaginário, não a realidade) provocaram foi uma coisa de que
gostei e que me marcou. Mas, quem sabe pela infância em boa parte numa fazenda
de café, o realismo afastou-me do trotskismo. Talvez por ter vivenciado essa
mudança, gosto ainda mais de Francis.
Teria sido muito interessante ler suas crônicas ácidas,
ferinas, realistas a um ponto até doloroso, muitas e muitas vezes, durante o
desenrolar dos governos petistas de Lula e Rousseff.
Mais que isso, como teria sido fantástico ler por seus olhos
o desenrolar da Lava Jato, a consagração da Pet como aquilo que sempre foi: uma
empresa cara para o Brasil, uma empresa muito cara para os brasileiros. Por favor,
“cara para” e não, jamais, “cara ao ou aos”.
Teria dado boas risadas, boas, mas amargas, com a moral
esquerdista exposta à luz do Sol, a moral desnuda e feia de quem falava de boca
cheia da moral alheia.
Francis faz falta.
Essa colônia de um país europeu que por séculos primou pelo
atraso, precisava ter Paulo Francis vivo, ativo, marcante não só no decorrer
desses 20 anos que foram mais de exposição do que somos do que de mudanças para
o que nunca conseguimos ser. E hoje duvido que venhamos a ser.
Abaixo os links para matérias da Folha, hoje.
Um comentário:
Perfeito, meu caro! É duro constatar que o "país do futuro" chapinha, derrapa e não sai do atoleiro em que se meteu pelos próprios pés. Vivemos presos num eterno "dia da Marmota"; nosso hino ufanista continha uma profecia que demoramos a perceber: o país está "deitado eternamente em berço esplêndido".
Será que algum dia se levantará?
Grande abraço!
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