Aleksandr Isayevich Solzhenitsyn não está mais em moda.
Pena.
Li “Um dia na vida de Ivan Denisovich” bem durante o início
de minha militância contra a ditadura militar.
Foi uma leitura importante para mim. Tinha, então, 16 ou 17
anos e demorou vários anos até ser recrutado para o velho PCB. Nunca tive ilusões
sobre o estado soviético (e nem teria como, afinal, era leitor do Estadão desde
gurizote, portanto...), mas a leitura de “Um dia na vida...” e posteriormente
de “Arquipélago Gulag” foi uma cacetada.
Guri ainda, e bota guri nisso, assisti a um documentário
brutal, que nunca esqueci. Creio que eu tinha 8 ou 9 anos de idade, mas graças à
qualidade do ensino público e mais os gibis e mais os filmes nas matinês dos
domingos (todos legendados, claro!) eu já lia muitíssimo bem. Nem precisaria de
leitura, porém, para entender o horror dos campos de concentração nazistas, os
assassinatos em massa, o extermínio.
Nunca esqueci as cenas daquele documentário.
Nunca mais esqueci as imagens mentais do Gulag.
Sempre abominei o nacional-socialismo e seu primo-irmão, o
fascismo.
Já adulto e plenamente consciente e melhor informado, passei
a abominar, igualmente, o socialismo nas suas formas soviética, castrista, maoísta
e outras mais.
(É importante citar essas vertentes do socialismo porque,
apesar de não ser o ideal para a humanidade, tem algumas variantes bem
civilizadas, como sabemos.)
Toda minha vida tem decorrido com essas imagens, tanto as captadas
pelas câmeras dos cinegrafistas de Hitler como as que eu formei em minha mente
pela leitura de “Gulag”.
Adolescente, depois jovem adulto e já pai de uma filha e
mesmo acreditando em democracia e tudo que a ela diz respeito, permaneci na
militância até o dia em que Tancredo foi eleito pelo Colégio Eleitoral. Foi meu
último dia.
Desde então mantive-me longe das estruturas partidárias,
embora recomende vivamente a participação de todos nos partidos. Apesar de
longe da estrutura burocrática, sou eleitor e militante do PSDB desde sua
fundação. Apesar de críticas diversas à linha e ao programa do Partido,
continuo achando ser ele o que de melhor temos no atual espectro político.
Meu coração e meu cérebro, porém, há bom tempo pedem um
partido mais claramente definido em alguns pontos-chave, como, por exemplo, o
combate ao Estado excessivo, o combate às intervenções na economia e outros
mais.
Fosse eu americano e seria um republicano de esquerda. Ou “republicano de
esquerda”. Jamais teria votado nessa abominação perigosa que venceu a eleição
presidencial de 2016.
Não gosto e não aceito ingerência do Estado sobre minha
vida. E menos ainda de seus servidores!
O Estado existe para servir ao cidadão e nunca para
servir-se dele. O mesmo se aplica à sua burocracia.
Tudo isto posto, pergunto:
Como pode alguém não criticar o Estado pelas mortes nos
presídios?
O fato de muitos dos mortos, ou mesmo todos, se fosse o caso,
serem assassinos dos piores tipos, é irrelevante.
Porque o mesmo Estado que hoje permite o assassinato em
massa de presidiários assassinos e estupradores, fará o que com presos de
consciência?
Qual a diferença de fundo, qual a diferença real, e não a
simples e meramente formal, entre o Estado soviético e o Estado nazista e o
Estado que permite e aceita Carandiru, Manaus, Boa Vista ou o maranhense Pedrinhas?
Quem hoje elogia e baba de satisfação com as mortes de
Manaus, deve ter o mesmo comportamento com outras mortes em outros momentos em
outras terras...
Todas, porém, sob o domínio do mesmo e opressivo Estado.
Leiam Solzhenitsyn.
O Estado é o maior e pior inimigo do Indivíduo.
Um comentário:
Aplausos! Efusivos aplausos!
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